As comemorações dos 200 anos da chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, colocam D. João VI no centro das discussões, ensejando opiniões diversas sobre sua figura controversa. É inegável o bem que fez ao Brasil a instalação nessas terras da sede do reino. O episódio foi fundador da nação.
Com a Corte, chegou a livraria real, precursora da Biblioteca Nacional. Vieram os prelos que permitiram instalar a Imprensa Régia, abriram-se os portos e iniciaram-se os cursos de medicina na Bahia e no Rio de Janeiro. Fundaram-se o Banco do Brasil e o Jardim Botânico. Estabeleceram-se os pressupostos que preparavam a Independência.
Com tudo isso, a figura de D. João VI nunca se livrou de uma imagem caricata, de um melancólico comedor de frangos, alheio às questões de Estado, amargurado pela demência da mãe, a infidelidade e as intrigas políticas da mulher. Um Rei vacilante, inseguro, que deixou para a última hora a decisão de partir para o Brasil. Medida que reflete uma estratégia esperta que lhe salvou o Reino, ou apenas uma fuga covarde diante da tropas de Napoleão?
Ajuda a pensar o que aconteceu à vizinha Espanha, com a destituição do soberano e a implantação no poder do irmão de Napoleão. É igualmente importante meditar sobre a resistência que opôs ao absolutismo, encarnado nas figuras da esposa Carlota Joaquina e do filho D. Miguel. Governou com vários ministros influentes, mas nunca entregou o poder a um só, como fizera seu avô D. José, em cujo reinado aconteceu o consulado do Primeiro Ministro, Marquês de Pombal. Dele, disse Oliveira Martins, "desconfiava sempre, e de tudo, de todos; e se era indeciso, por ser fraco e inepto, era-o também por esperteza ou dissimulação". Quando morreu, o Embaixador da França em Portugal escreveu que desaparecera um homem bom e desgraçado.
Arguto ou tolo, esperto ou néscio, o fato é que análise justa sobre sua personalidade e feitos, só se fará consideradas as circunstâncias em que viveu e reinou. E tais circunstâncias, inevitavelmente, terão que se remeter às críticas que lhes sejam feitas.
Com a Corte, chegou a livraria real, precursora da Biblioteca Nacional. Vieram os prelos que permitiram instalar a Imprensa Régia, abriram-se os portos e iniciaram-se os cursos de medicina na Bahia e no Rio de Janeiro. Fundaram-se o Banco do Brasil e o Jardim Botânico. Estabeleceram-se os pressupostos que preparavam a Independência.
Com tudo isso, a figura de D. João VI nunca se livrou de uma imagem caricata, de um melancólico comedor de frangos, alheio às questões de Estado, amargurado pela demência da mãe, a infidelidade e as intrigas políticas da mulher. Um Rei vacilante, inseguro, que deixou para a última hora a decisão de partir para o Brasil. Medida que reflete uma estratégia esperta que lhe salvou o Reino, ou apenas uma fuga covarde diante da tropas de Napoleão?
Ajuda a pensar o que aconteceu à vizinha Espanha, com a destituição do soberano e a implantação no poder do irmão de Napoleão. É igualmente importante meditar sobre a resistência que opôs ao absolutismo, encarnado nas figuras da esposa Carlota Joaquina e do filho D. Miguel. Governou com vários ministros influentes, mas nunca entregou o poder a um só, como fizera seu avô D. José, em cujo reinado aconteceu o consulado do Primeiro Ministro, Marquês de Pombal. Dele, disse Oliveira Martins, "desconfiava sempre, e de tudo, de todos; e se era indeciso, por ser fraco e inepto, era-o também por esperteza ou dissimulação". Quando morreu, o Embaixador da França em Portugal escreveu que desaparecera um homem bom e desgraçado.
Arguto ou tolo, esperto ou néscio, o fato é que análise justa sobre sua personalidade e feitos, só se fará consideradas as circunstâncias em que viveu e reinou. E tais circunstâncias, inevitavelmente, terão que se remeter às críticas que lhes sejam feitas.
2 comentários:
Dr. Lúcio:
Essas suas reflexões sobre a vinda da família real para o Brasil, estão excelentes.
E essa sua honesta simpatia pela figura de D. João VI, eu, particularmente, tenho adorado.
Fico, às vezes, imaginando como o senhor convive tão bem com esses trogloditas da política partidária nacional.
Isso não lhe traz um peso?
Sou sua admiradora eterna.
Ivana Maia
Dr. Lúcio,
Concordo com o Sr. sobre os benefícios da vinda da Família Real portuguesa para o Brasil.
Na escala em Salvador – aonde chegou em 22 de janeiro de 1808 tendo ali permanecido por quase um mês – a primeira medida de Dom João foi a abertura dos portos da colônia às nações amigas. Quebrava-se, assim, o monopólio do comércio com Portugal. Ainda em Salvador, Dom João VI criou o ensino da medicina no Brasil, com a fundação da primeira Escola Médica do país. Concedeu licença para construção de duas fábricas, uma de vidro e outra de pólvora, além de ordenar a feitura do plano de defesa daquela cidade.
Já no Rio de Janeiro, Dom João consolidou aquela cidade como o centro de decisão da colônia. Editou o regulamento da Administração Geral dos Correios, criou as Escolas de Medicina e a Superior de Técnicas Agrícolas; um laboratório de estudos e análises químicas; as Academias: Real Militar (que incluía cursos de Mineração e Engenharia Civil) e a de Guardas-Marinha. Ali, o príncipe regente revogou um alvará que proibia a fabricação de qualquer produto no Brasil. Surgiram, então, as primeiras indústrias brasileiras: a fábrica de ferro, em Congonhas do Campo, moinhos de trigo, fábricas de tecidos, cordas, pólvora e barcos. Dom João criou ainda: o Supremo Conselho Militar, a Intendência Geral da Polícia, o Erário Régio, o Conselho da Fazenda, o Corpo da Guarda Real e o Tribunal da Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens, ou seja, o Judiciário Independente do Brasil. Posteriormente, o príncipe regente criou o Banco do Brasil e várias instituições culturais, como a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico, o Real Gabinete Português de Leitura, o Teatro São João, o primeiro jornal impresso no Brasil (a Gazeta do Rio de Janeiro), a Imprensa Nacional, o Museu Nacional, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios.
O príncipe regente revogou uma lei de 1733, que proibia a construção de estradas na América portuguesa, a pretexto de combater o contrabando de ouro e pedras preciosas. Simultaneamente, determinou a abertura de novas estradas, o que veio a romper o isolamento em que viviam as províncias da colônia.
No entanto, o maior de todos os benefícios prestados por Dom João VI ao Brasil foi, sem nenhuma dúvida, a manutenção da integridade territorial do nosso país.
Armando Lopes Rafael (historiador)
Crato - CE
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