sábado, 26 de julho de 2014

Intelectual

Já li muita definições de intelectual mas esta, de George Steiner, é a mais sucinta embora não menos precisa : Intelectual é um ser humano que tem na mão um lápis quando está lendo um livro.

In Nenhuma Paixão Desperdiçada, editora Record.

Permanência da palavra

O mármore se desfaz, o bronze perece mas as palavras escritas ---- aparentemente o meio de expressão mais frágil -- sobrevivem. Vão-se seus criadores e elas permanecem -- Flaubert lançou seu grito de protesto diante do paradoxo de estar ele morrendo como um cão abandonado enquanto a "prostituta Emma Bovary, criatura sua, surgida de palavras sem vida rabiscadas em folhas de papel, continuaria a viver. Até aqui somente os livros conseguiram exceder à morte em astúcia e tem realizado o que Paul Éluard definiu como a compulsão maior do artista : le dure désire de durer.

De George Steiner, no livro Nenhuma Paixão Desperdiçada

sexta-feira, 25 de julho de 2014

UMA MENINA DE (AO MENOS) 800 ANOS
(Pasquale Cipro Neto)
 
 O documento régio mais antigo redigido em português de que se tem notícia o Testamento de D. Afonso II, o terceiro rei de Portugal. A data desse documento? 27 de junho de 1214. Já lá se vão 800 anos e alguns dias.

Há registros de documentos escritos antes, mas, por ser oficial e por ter estrutura e formas que o distinguem do galego-português, isto, por ter sido escrito em português (arcaico), o Testamento de D. Afonso II simboliza a "certidão de nascimento" da nossa língua.

Para alguns, esse "nossa" que acabo de empregar motivo bastante para uma "guerra", mais ideológica do que real ou concreta. Explico: tanto no Brasil quanto em Portugal há gênios que dizem que o que se fala no Brasil "brasileiro".

Dou um exemplo, real e inacreditável: um amigo (brasileiro) entrou numa loja do aeroporto de Lisboa e perguntou algo a uma funcionária, que respondeu em inglês. O "cliente" fingiu que no ouvira o que ouvira e continuou a conversa em português, mas a rapariga... Bem, diante da insistência dela em responder em inglês, tornou-se inevitável a pergunta: "Mas por que a senhora me responde em inglês se entende perfeitamente o que lhe digo em português?". Prepare-se, caro leitor: "Porque eu só falo português com portugueses; com turistas, falo inglês".

Sim, nos 514 anos desses 800 (que certamente so mais de 800), o português do Brasil fez o que afirma Caetano Veloso na genial "Língua" (de 1984): "Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões". "A língua de Luís de Camões" o português de Portugal, e "a minha língua" o português brasileiro moderno, feito com o roçar do português europeu.

A origem (latina) de "roçar" é  a mesma de "romper" ("rasgar, quebrar, arrebentar"). "A minha língua" se faz como faz quem tem nas mãos uma foice e sai abrindo caminho.

Não se pode esquecer que, por extenso de sentido, "roçar" tem os traços semânticos de "tocar", "resvalar", "friccionar", sentidos que se ilustram bem pelo roçar de pernas que se dá numa conjunção carnal amorosa -na letra de Caetano, essa conjunção se dá entre o português de lá e o de cá. Se pensarmos na metáfora de uma conjunção carnal, os corpos (as duas vertentes da língua) aproximam-se e afastam-se, aproximam-se e afastam-se...

No belíssimo documentário "Língua _Vidas em Português" (do moçambicano Victor Lopes), disponível no YouTube, o grande escritor moçambicano Mia Couto faz referência e reverência específica ao namoro e à conjunção carnal entre o português europeu e o do Brasil. Mas do notável José Saramago a mais cabal definição: "Penso que no haja propriamente uma língua portuguesa; há línguas em português".

Celebremos os mais de 800 anos e a multiplicação de outros tantos -que decerto virão. E celebremos o que já se fez e se faz na nossa língua, que nossa, sim, e de todos, sem ressentimentos ou preconceito.

Lembro aqui uma apresentação de Caetano Veloso em Roma. Ao chamar para o palco a magnífica cantora portuguesa Dulce Pontes, Caetano disse, em italiano, que a chamaria "per cantare con me nella nostra lingua portoghese".

Lembro também o grande Fernando Pessoa: "A minha pátria a língua portuguesa". Em "Língua", Caetano cita esse pensamento e, num primeiro momento, altera-o ("Minha pátria minha língua") e exemplifica-o com esta exortação: "Fala, Mangueira!". Em outro momento, Caetano cita-o novamente e o emenda: "A língua minha pátria/ E eu no tenho pátria, tenho mátria / E quero frátria".

Como diz Mia Couto, o Brasil deu as costas para a África (e também para Portugal, creio). E, de certa maneira, estamos todos de costas uns para os outros.

Independentemente disso, as línguas em português seguem (e seguirão!) belas, firmes e fortes. É isso. 

Fonte: Folha de São Paulo (17/07/2014)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Aeroportos

O governo comemorou o funcionamento tranquilo dos aeroportos durante a Copa. Realmente não há notícias de congestionamento, tumulto, atrasos que viessem a causar desconforto aos usuários naquele período. O temido caos aéreo não aconteceu.

Certamente terão contribuido para isso providências como suspensão de voos não relacionados aos eventos da Copa e outras medidas para diminuir o tráfego aéreo nas sedes de jogos.

Na verdade o tráfego em aeroportos caiu 4% nas cidades-sede. O número de pousos e decolagens nos aeroportos durante os dias de jogos da Copa foi 4% menor do que um mês antes. O cálculo foi feito segundo dados dos boletins diários de tráfego aéreo de 12/06 a 13/07.

Ao longo da Copa houve apenas três dias de pico todavia não foram mais intensos que em Carnavais ou feriados de fim de ano.

Saiba mais na Folha de São Paulo, edição de 17/07/14

Energia

O aumento na conta de energia elétrica desencadeou um processo de desativação de indústrias que optaram por substituir a produção pela venda de energia.

Com contratos de longo prazo empresas deixaram de produzir para venderem a energia contratada. Miram a rentabilidade do capital indicando que vai mal a performance industrial do Brasil.

O maior exemplo dessa prática está no setor de alumínio formado por grandes consumidoras de energia elétrica. A produção local foi reduzida, a energia comercializada o que lvou a um aumento de da importação em 888%.

Algumas fábricas, diante da elevação do preço da energia, não puderam arcar com os custos, tornaram-se inadimplentes e tiveram o fornecimento cortado.

Saiba mais no jornal O Estado de São Paulo, edições de 04 e 06/07/14