sexta-feira, 13 de julho de 2012

Fragilidade da siderurgia

Com uma capacidade instalada para produzir 48 milhões de toneladas de aço, um recorde histórico, a siderurgia brasileira vive atualmente uma das suas piores fases. Enquanto as suas exportações encolhem, as siderúrgicas nacionais não conseguem defender-se nem mesmo no mercado interno. Dos 26 milhões de toneladas anualmente consumidas no País, 3,5 milhões provêm de países que atuam agressivamente na exportação, grupo que inclui a China, Coreia do Sul, Rússia, Ucrânia e até mesmo a Turquia.

Apesar da alta do dólar diante do real, persistem queixas das siderúrgicas quanto ao câmbio, mas há problemas mais complexos, ligados ao custo Brasil, que agravaram ainda mais a falta de competitividade do produto nacional em um período em que há excesso de oferta no mercado mundial de aço, estimado em 500 milhões de toneladas. O alto custo de produzir no Brasil pôs fim a um período em que o País era visto como uma plataforma para exportação de produtos siderúrgicos.

Um caso exemplar é a situação da Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA), cuja construção começou em 2006 e que começou a operar em 2010 no distrito industrial de Santa Cruz, no Rio, voltada para a exportação. A CSA, controlada pela ThyssenKrupp, em parceria com a Vale, divulgou há pouco um prejuízo de R$ 7,97 bilhões no último ano fiscal, e está à venda. O Grupo ThyssenKrupp anunciou que também quer se desfazer de sua laminadora em Mobile, no Alabama, para a qual pretendia exportar anualmente US$ 1 bilhão.

"O jogo mudou nos últimos cinco anos", disse Albano Chagas Vieira, presidente do Instituto Aço Brasil (IABr). Segundo ele, o processo começou antes mesmo da crise financeira global de 2008 e, aos poucos, "perdemos a nossa força de competição no mercado externo". Além das importações diretas de aço, às vezes subsidiadas pelos países produtores, como no caso da Turquia, o setor também se ressente de importações indiretas, ou seja, de produtos acabados de aço, cuja entrada supera 5 milhões de toneladas por ano.

Para uma recuperação, segundo Chagas Vieira, as empresas devem, em primeiro lugar, investir mais na integração de suas operações, para reduzir os custos de produção, mediante um melhor aproveitamento da principal matéria-prima - o minério de ferro - e outros insumos. Ao mesmo tempo, as siderúrgicas devem lutar pela desoneração tributária.

Estudo feito pelo IABr mostrou que, antes da tributação, o Brasil é o terceiro país mais competitivo do mundo para produzir aço. Acrescido o imposto, o País cai para o último lugar no ranking global de competitividade. Estreitamente ligado a essa questão está o custo de energia elétrica, que vem se tornando proibitivo. Segundo cálculos do IABr, o custo de energia subiu de US$ 27/MWh para US$ 120/MWh em dez anos. O governo está ciente do problema, como observou o presidente do IABr, mas a solução é complexa, uma vez que não requer apenas redução de tributos federais, mas também do ICMS cobrado pelos Estados.

A persistir a situação atual, faz mais sentido expandir a capacidade de produção de minério do que instalar novas indústrias siderúrgicas no País. Entre os pontos negativos, os industriais da área também destacam a baixa evolução do consumo de aço no Brasil, que era de 100 kg per capita em 1980 e hoje não passa de 145 kg per capita. Na China, o consumo per capita, alavancado pela expansão industrial e pelas obras de infraestrutura, pulou de 34 kg para 500 kg de 1980 para cá. Essa relativa estagnação do consumo de aço no País se deve, em parte, ao pouco uso de aço pela construção civil e, principalmente, ao atraso nas obras de infraestrutura.

Como afirmou André Gerdau Johannpeter, presidente do Grupo Gerdau, ao jornal Valor (14/6), há um grande elenco de investimentos previstos, mas os projetos não evoluem na velocidade adequada. Para que essa situação se reverta, é necessária melhor gestão de recursos públicos com ênfase em parcerias público-privadas e concessões ao setor privado. 

* Fonte: O Estado de S. Paulo (5/07/2012)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Partidos

O excesso de partidos, muitos com existência meramente cartorial, é na opinião de alguns estudiosos um fator importante a concorrer para a baixa funcionalidade da democracia brasileira.

A proliferação de siglas acaba por pulverizar a representação legislativa obrigando o executivo a concessões e alianças que comprometem o desempenho do governo e muitas vezes ferem a ética.

Uns mais, outros menos, todos sucumbem à essa realidade.

A sociedade deve ser livre para se organizar em tantos partidos políticos quanto ache necessário.

Já o gozo de prerrogativas custeadas pelo tesouro, tais como espaços "gratuitos" no rádio e televisão, fundo partidário, estruturas de suporte nos parlamentos, só deveriam estar disponíveis quando essas agremiações atingissem uma mínima expressão eleitoral.

Em resumo, partidos poderiam nascer à vontade mas precisariam crescer para aparecerem. Iniciativas destinadas a conter a farra partidária têm esbarrado na justiça.

A recente decisão da justiça que estendeu ao recém fundado PSD direito ao fundo partidário e ao espaço na televisão e rádio no horário eleitoral vai na contramão dessa ideia, antes estimula a criação de novos partidos garantindo que usufruam direitos antes que comprovem sua expressão eleitoral nas urnas.

Biologia

John Coates, ex-banqueiro, convertido à neurociência e a endocrinologia, acaba de publicar um livro, The Hour Between  Dog and Wolf, para explicar a conduta temerária, irresponsável mesmo, de operadores financeiros que lançaram o mundo numa das maiores crises da história do capitalismo.

As oscilações do mercado guardariam relação com níveis hormonais no sangue desses operadores. Se tudo vai bem há maior liberação de testosterona o que gera euforia e favorece as operações de risco.

Se o mercado vai mal aumenta a produção de cortisol e até bons negócios são vistos com pessimismo e mercado cai mais.

Para tornar a banca menos vulnerável à biologia Coates sugere mais mulheres nas mesas de arbitragem pois essas são menos sensíveis à testosterona. Tambem recomenda uma revisão do sistema de distribuição de bonus em vigor que estimula os operadores a correrem riscos pouco razoáveis.

Saiba mais no artigo É a biologia, estúpido, de Hélio Schwartswan publicado na Folha de S. Paulo, edição de 01/07/12

terça-feira, 10 de julho de 2012

A frase do dia

O fator político superou longamente o jurídico.

José Mujica

Presidente do Uruguai, sobre a decisão de apoiar o ingresso da Venezuela como membro pleno no Mercosul sem a participação do Paraguai.

domingo, 8 de julho de 2012

Diplomacia

A decisão dos sócios do Mercosul de suspender o Paraguai e aproveitar-se disso para admitir a Venezuela pode ter sido uma trapalhada diplomática praticada se não sob a liderança do Brasil pelo menos com sua conivência.

O argumento usado para suspender o país vizinho é uma cláusula democrática que vincula os países do grupo. A destituição do presidente Lugo, pela celeridade com que se deu, teria sido um golpe parlamentar caracterizado pelo cerceamento de defesa do mandatário paraguaio.

Chama atenção o abandono, e isolamento político, de Lugo que obteve em seu favor, no Senado e na Câmara dos Deputados, um, ou pouco mais que isso de votos.

Resignado teria acatado o resultado só mais tarde insurgindo-se contra isso.

Os interesses brasileiros naquele país são relevantes. Basta citar Itaipu, que gera 15% da energia consumida no Brasil e o grande número de brasiguaios responsáveis por boa parte da produção agrícola do Paraguai.

A Venezuela aguardava há alguns anos a anuência dos sócios para ingressar como membro pleno do bloco. Restava a aprovação paraguaia, empancada no Senado, óbice ainda não superado.

Lembro que a aprovação pelo parlamento brasileiro não foi tranquila. Arrastou-se por um bom tempo.

A suspensão do Paraguai, até a realização de eleições presidenciais, ensejou a oportunidade para que os outros três sócios, Brasil, Argentina e Uruguai, admitissem a Venezuela sem a chancela do país suspenso.

O governo uruguaio, esteve dividido quanto à essa decisão. O Ministro das Relações Exteriores mostrou-se contra. O Presidente José Mujica disse que sobre o aspecto jurídico prevaleceu o político.

Se o que aconteceu no Paraguai não foi um exemplo de ato democrático a Venezuela não prima por respeitar direitos individuais, liberdade de expressão e decisões da justiça.

Há anos, quando era Deputado Federal, integrei uma comitiva de parlamentares brasileiros em visita ao Paraguai, a convite da oposição, para avaliar a conjuntura política do país então sob a ditadura de Alfredo Stroessner.

Foi quando pude sentir a importância da embaixada brasileira perante as instituições e lideranças políticas daquele país. Um posto pequeno, mas de grande importância estratégica para nós, que requer sempre à sua frente um diplomata experiente.

Algum tempo depois o governo brasileiro foi surpreendido pela queda do ditador sem que nosso embaixador houvesse percebido a iminência do acontecido. Não sei se agora teria ocorrido o mesmo ou se nosso governo alertado não tenha emprestado importância aos avisos.

Fato é que nosso Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, teve que deixar às pressas a Rio+20 para correr atrás do prejuízo no nosso vizinho.




Economia

O Índice de Preço ao Consumidor Amplo ( IPCA), que mede a inflação, para o mês de junho foi de 0,08%. O menor desde agosto de 2010, que foi de 0,04. O mercado projeta para o ano uma inflação de 4,93%.

Se a inflação cedeu, a previsão para o PIB de 2012 continua a cair. Os mais otimistas falam em 2,7, os pessimistas em 2,0.

Com esse quadro a expectativa é que se chegue ao fim do ano com uma taxa selic de 7%.

Saiba mais no jornal O Globo, edição de 7/7/12.

Mosquitos

Foi inaugurada na Bahia, em Juazeiro, uma inusitada indústria. Uma fábrica de mosquitos.

Aedes machos, geneticamente modificados, procuram as fêmeas, como os que existem na natureza, com a diferença de que carregam um gene responsável pela morte das larvas que assim não chegam à idade adulta. São Aedes filicidas.

Quando a fábrica estiver operando em plena capacidade poderá produzir quatro milhões de mosquitos machos por semana.

É uma arma biológica a ser empregada no combate à dengue.

Saiba mais no jornal O Globo, edição de 07/07/12

Licitações

O presidente da Confederação Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão, enviou documento aos senadores que apreciam a MP do Código Florestal alertando que o novo código "inviabiliza muitas das cidades mais importantes e dificulta viabilizar projetos na área de saneamento".

Aproveita para denunciar que o RDC (Regime diferenciado de contratação) "prejudicará as empresas pequenas e médias que são de menor estrutura e possuem menos potencial financeiro".

O RDC, instrumento legal criado para as obras da Copa, e agora do PAC, na prática está revogando a lei de licitações.

Saiba mais no jornal O Globo, coluna Panorama Político, edição de 07/07/12

Leituras

Das leituras da missa de hoje:

Da leitura da Profecia de Ezequiel:

"Quer te escutem, quer não, pois são um bando de rebeldes, ficarão sabendo que houve entre eles um profeta".

Do Evangelho segundo Marcos:

"Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares".