Ponte Metálica - Fortaleza - Ceará
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
Ruka sv. Krsevana (XIV st.), Sv. Stosija - Zadar.
Reliquary with the hand of St. Chrysogonus, 14th c., cathedral of St. Anastasia, Zadar.
Armreliquiar des hl. Grisogonus, 14. Jh., die Kathedrale Hl. Anastasia - Zadar.
Main de St Chrysogone, XIVème s., Ste Anastasie - Zadar.
Reliquiario con la mano di S. Crisogono, XIV sec., Cattedrale di S. Anastasia, Zadar.
terça-feira, 18 de setembro de 2018
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
segunda-feira, 9 de julho de 2018
sexta-feira, 29 de junho de 2018
sexta-feira, 15 de junho de 2018
quinta-feira, 26 de abril de 2018
UM PRAZER SOLITÁRIO
Jorge Coli
Não faz muito tempo, fui assistir a uma ópera. Era
"As Bodas de Fígaro", de Mozart. Lá para o final, o personagem mais
importante, Fígaro, faz um retrato cruel das mulheres. Diz: "Abram um
pouco os olhos, homens incautos e bobos. Olhem essas mulheres, olhem o que elas
são".
Segue enumerando: "São bruxas que enfeitiçam
para nos deixar sofrendo, sereias que cantam para nos afogar... São rosas
espinhosas, raposas maliciosas, mestras de engano e de angústias, que fingem e
mentem, que amor não sentem, não sentem piedade". Conclui: "O resto
do que são capazes não digo: cada um já sabe". E Mozart, com seu humor
malicioso, faz então soarem as trompas: o nome do instrumento em italiano é
"corno".
No século 18, quando "As Bodas de Fígaro"
foi composta, a sala toda ficava iluminada. Não se deixava o público no escuro,
como hoje. Os cantores podiam então interpelar diretamente a assistência. Na
montagem que vi, o diretor de cena teve a ideia de acender as luzes da sala
durante a ária de Fígaro, que saiu do palco e dirigiu-se aos homens presentes.
Eu estava na extremidade da fileira, ao lado do
corredor por onde ele passava. Logo atrás de mim, na segunda fila, uma senhora
furiosa levantou-se. Fez o sinal de "não" nas fuças do pobre cantor e
retirou-se protestando em voz alta. De início, pensei que fosse parte do
espetáculo —hoje em dia, com as montagens modernas, tudo é possível. Mas não,
era uma feminista embravecida.
Pensei que ela poderia ter prestado mais atenção. O
tema nuclear de "As Bodas de Fígaro" é atual: trata-se de
desmascarar, denunciar e punir um poderoso aristocrata que é violento predador
sexual.
A peça da qual a ópera foi extraída é de um
francês, Beaumarchais. Pareceu subversiva e foi proibida. Nela, a velha
Marcelina proclama, de maneira eloquente, a tirania masculina.
Diz, entre outras coisas: "Mesmo na sociedade
mais elevada, as mulheres obtêm dos homens apenas uma consideração irrisória...
Somos mantidas numa real submissão, tratadas como menores de idade no que se
refere aos nossos bens, mas como maiores quando devemos ser punidas".
Mozart excluiu esse trecho para evitar a censura, mas, ainda assim, fez uma
clara acusação antimachista.
Aquela senhora furiosa não deu tempo para a
conclusão da ópera, não viu a condenação do conde brutal e revoltou-se antes do
tempo. Tal suscetibilidade, irritada pela situação inferior em que, do modo
mais injusto, as mulheres são mantidas em nossas sociedades, é compreensível.
Levou-a a partir antes que as acusações de Fígaro contra o gênero feminino
fossem desmentidas. Indignou-se cedo demais.
Indignação: eis o problema. Nunca tive simpatia por
essa palavra. Pressupõe cólera e desprezo. Quando estamos sozinhos, a
indignação nos embriaga como se fosse uma droga. Arrebata a alma, enfurece as
vísceras, dilata os pulmões e nos faz acreditar na veemência do nosso ódio.
Viramos heróis justiceiros diante de nós mesmos.
A solidão indignada faz grandes discursos
interiores contra aquilo que erigimos como inimigo. Serve para dar boa
consciência. É autossatisfatória. Um prazer solitário. Exaltados, arquitetamos
vinganças e reparações. Depois, o balão murcha, sobrando apenas nossa miserável
impotência. Talvez tenha sido Stendhal o escritor que melhor caracterizou esses
estados irritados, ineficazes e inócuos.
Ao se manifestar na presença de outra pessoa, ou de
duas, ou num pequeno grupo, a indignação leva ao descontrole. Nervosos, falamos
alto e dizemos coisas que, na calma, jamais pronunciaríamos.
Quando um de seus heróis se deixa levar pelos
discursos coléricos, Homero faz alguém sempre repreender: "Que palavras
ultrapassaram a barreira de teus dentes!". Porque não somos mais nós que
falamos, mas algo que está em nós e que ocupou nosso corpo esvaziado de
qualquer poder reflexivo: a indignação. Assim também ocorre com os jorros
furibundos de palavras que inundam as redes sociais.
A multidão indignada é, por sua vez, uma
catástrofe. Tomada por um furacão de pulsões, ela atropela, esmaga, lincha.
A indignação trava as forças racionais. Alimentada
pelas paixões, usa uma aparência de razão como fole para soprar nas brasas.
Está claro, aceita só argumentos que servem a reforçar e ampliar seu domínio. É
feita de radicalismos.
Assim, anula todas as complexidades e nuanças,
bloqueia qualquer compreensão que não seja inteira e simplificada. Anula também
o outro, como ser humano, se ele não compartilhar de nossa própria indignação.
Jorge Coli
É
professor titular de história da arte na Unicamp e autor de 'O Corpo da
Liberdade' (Cosac Naify).
Fonte: Folha de S. Paulo - ilustríssima - 4/02/2018.
terça-feira, 24 de abril de 2018
A
insurgência dos vaga-lumes
Em vez de optar pela
desesperança, há quem continue a apostar na rebelião do pensamento
Imagine um livro denso sobre a obra e o pensamento
de Franz Kafka que, para ser lido, exija o trabalho prévio de desatarraxar com
chave de fenda dois pequenos parafusos enferrujados trespassando todas as
páginas, desde a capa até a contracapa.
Ou um volume que, a propósito de falar de
insurreições e revoltas de rua, tenha a extremidade das folhas chamuscadas,
exemplar a exemplar, e por isso recenda levemente a papel queimado.
Ou, ainda, uma brochura sobre o inferno do sistema
prisional, com as costuras da lombada à vista, acondicionada dentro de um
marmitex de papel alumínio, simulando uma quentinha.
Tais ousadias gráficas, que dessacralizam o formato
livro e ao mesmo tempo convertem tais publicações em objetos de arte,
constituem apenas um dos muitos aspectos instigantes dos títulos lançados por
uma editora alternativa paulistana, de catálogo tão enxuto quanto insubmisso às
convenções do mercado.
Para além do artesanato e dos experimentalismos
materiais que nos atiçam os sentidos, o portfólio da n-1 edições impressiona
pelo espírito transgressivo de sua proposta editorial. Não são livros
destinados ao mero deleite, à leitura de puro entretenimento. Foram escritos,
de modo deliberado, para ferroar consciências.
"A ideia é oferecer pontos de vista que ponham
em xeque a perspectiva da razão ocidental, branca, masculina, heteronormativa,
eurocêntrica", explica o filósofo, professor e tradutor Peter Pál Pelbart,
que dirige a editora ao lado do sócio, o produtor cultural Ricardo Muniz
Fernandes. "Queremos suscitar alteridades e insurreições de pensamento,
por meio da propagação de vozes plurais que sejam minoritárias, quase
inaudíveis."
Desde o primeiro lançamento, "Máquina
Kafka", de Félix Guattari, em 2011, até os títulos mais recentes, como
"As Existências Mínimas", de David Lapoujade, a n-1 investe em uma
linha transdisciplinar que abarca da antropologia à estética, do teatro à
filosofia, da política à literatura. Mas sempre trabalhando nos interstícios do
mercado, na tentativa de promover fissuras em relação aos discursos
hegemônicos.
O filósofo camaronense Achille Mbembe, com
"Crítica da Razão Negra", e a americana Judith Butler, com
"Corpos que Contam", figuram entre os próximos lançamentos. Autores
brasileiros, como Eduardo Viveiros de Castro ("Metafísicas
Canibais"), Suely Rolnik ("A Hora da Micropolítica") e Vladimir Safatle ("Quando as Ruas
Queimam: Manifesto pela Emergência"), também estão no catálogo.
"Resolvemos publicar esse tipo de livro diante
de nossa insatisfação com a maneira rasa de pensar que tomou conta do mercado
editorial", comenta Pelbart. "Queremos ativar sensibilidades,
promover a potência do pensamento complexo, buscar afinidades com movimentos já
em curso."
Tamanho arrojo gráfico-editorial esbarra nas óbvias
limitações mercadológicas relativas a esse tipo de produção. Para tentar
prosseguir sustentável, a editora instituiu recentemente uma espécie de
financiamento coletivo.
Por meio de pequena quantia mensal, o interessado
recebe em casa publicações do catálogo, incluindo os impetuosos folhetos da
série intitulada "Pandemia", feitos para serem repassados de mão em
mão, produzindo o efeito de contágio.
Questionado sobre se, ante o recrudescimento da
onda conservadora, é possível sobreviver à custa de uma tática que ele próprio
define como "guerrilha editorial", Pelbart responde parafraseando um
trecho de "A Sobrevivência dos Vaga-lumes", do francês Georges
Didi-Huberman.
"A dança dos vaga-lumes se efetua justamente
no meio das trevas", diz, com voz tranquila e pausada. "Quanto mais
pesada é a penumbra, mais somos capazes de captar as insurgências do mínimo
clarão, perceber os lampejos fugidios e nômades no meio do escuro."
Bom saber que, em vez de optar pelo lamento quase
geral de desesperança ou pela rendição cínica ao pragmatismo, existe gente que
continua a apostar na alteridade e na rebelião do pensamento. Mesmo que, no
presente instante, a luminescência insubordinável dos vaga-lumes pareça
eclipsada pelos clarões artificiais dos refletores midiáticos e pelo
lusco-fusco entorpecente das multitelas.
"Devemos nos tornar vaga-lumes e, desse modo,
formar novamente uma comunidade do desejo, uma comunidade de lampejos emitidos,
de danças apesar de tudo, de pensamentos a transmitir", propôs
Didi-Huberman. "Dizer 'sim' na noite atravessada de lampejos e não se
contentar em descrever o 'não' da luz que nos ofusca."
Lira Neto
Jornalista, pesquisador e biógrafo, já ganhou
quatro prêmios Jabuti por sua obra.
Fonte: Folha de S. Paulo - ilustrada - 04/02/2018.
segunda-feira, 23 de abril de 2018
O risco de ‘infantilizar’ a gestão pública
Agências reguladoras e gestores públicos em geral têm evitado tomar decisões inovadoras por receio de terem atos questionados. Ou pior: deixam de decidir à espera de aval prévio do TCU
O controle da administração pública passou por profunda transformação nos últimos 30 anos, impulsionado pela configuração institucional da Constituição de 88, que em boa hora fortaleceu órgãos como o MP e o TCU. Deve haver, porém, equilíbrio entre gestão e seu controle, sob pena de criarmos no país um “apagão decisório”, despertando nos gestores temor semelhante ao de crianças inseguras educadas por pais opressores.
O controle da administração pública passou por profunda transformação nos últimos 30 anos, impulsionado pela configuração institucional da Constituição de 88, que em boa hora fortaleceu órgãos como o MP e o TCU. Deve haver, porém, equilíbrio entre gestão e seu controle, sob pena de criarmos no país um “apagão decisório”, despertando nos gestores temor semelhante ao de crianças inseguras educadas por pais opressores.
A Emenda Constitucional 19 lançou bases para uma administração gerencial, mitigando o modelo burocrático, de matriz weberiana, instituído em 1988. Aos novos instrumentos que propugnam uma gestão voltada para resultados, deve corresponder um controle de mesma índole.
A busca da eficiência, todavia, não pode significar o afrouxamento do controle de legalidade e o combate à improbidade deve prosseguir com rigor. A transição de modelos, contudo, tem sido tormentosa tanto para o gestor, quanto para o controlador. Num quadro pavoroso de corrupção, o risco que se corre é o da generalização indevida, e é preciso responsabilidade para resistir a esse impulso.
O controle de legalidade possui contornos bem definidos, já o de eficiência é menos preciso e mais subjetivo. Exatamente por isso a hipertrofia e o voluntarismo devem ser repelidos nos órgãos de controle, pois não possuem legitimação democrática para formular políticas públicas. O controlador da administração gerencial deve agir com autocontenção e noção de consequencialismo.
Richard Posner caracteriza o consequencialismo pela necessidade de se observar os impactos econômicos das decisões estatais, tendo em vista que a maximização de riqueza incrementa o bem-estar das pessoas, e esse é o objetivo de qualquer nação. É comum decisões bem-intencionadas causarem resultados desastrosos. Segundo Posner, decisões assim são intrinsecamente erradas.
Se, do ponto de vista administrativo, uma política pública que consome dezenas ou centenas de bilhões de reais do orçamento e não resulta em benefícios para a população é tão condenável quanto uma licitação fraudada ou um contrato superfaturado, que ferramentas órgãos de controle têm para medir e controlar a eficiência dessa ação de governo?
O TCU tem se esmerado em realizar auditorias operacionais que identificam fragilidades, riscos e oportunidades de aperfeiçoamento na gestão governamental. Justamente por navegar nos mares da eficiência, e não no controle estrito da legalidade, é preciso resistir à tentação de substituir o gestor público nas escolhas que cabem ao Poder Executivo, e é essa a autocontenção que defendo.
É comum que especialistas — como são os auditores — tenham concepções e fórmulas até mais inteligentes para os problemas identificados, mas o controle de eficiência deve mirar processos de tomada de decisão e a razoabilidade dos critérios adotados, sem pretensões quixotescas ou salvacionistas.
A hipertrofia do controle gera a infantilização da gestão pública. Agências reguladoras e gestores públicos em geral têm evitado tomar decisões inovadoras por receio de terem atos questionados. Ou pior: deixam de decidir questões simples à espera de aval prévio do TCU. Para remediar isso, é preciso introduzir uma dose de consequencialismo.
Em correspondência recente, fui relembrado pelo Prof. Adilson Dallari (PUC-SP) daquilo que o jurista argentino Roberto Dromi apelidou de código do fracasso na administração pública: “Art. 1º: não pode; Art. 2º: em caso de dúvida, abstenha-se; Art. 3º: se é urgente, espere; Art. 4º: sempre é mais prudente não fazer nada”. O Brasil precisa revogar esse código urgentemente.
Bruno Dantas é ministro do TCU, pós-doutor em Direito (Uerj), professor do mestrado da UNINOVE e do IDP, e Visiting Research Fellow na Cardozo School of Law (Nova York) e no Max Planck Institute Luxembourg for Regulatory Procedural Law
Fonte: Jornal O GLOBO - 06/01/2018.
quarta-feira, 11 de abril de 2018
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