sábado, 28 de abril de 2007

Noite bem movimentada no Ideal Clube

Muito prestigiado o lançamento do livro-poema "O rio da minha infância", escrito por Lúcio Alcântara, com fotos de Joana França. O poeta, médico e diretor de Cultura do Ideal Clube, José Telles, foi o mestre de cerimônia.






O evento, que aconteceu na noite de quinta-feira (26), no Ideal Clube, além de reunir centenas de amigos do ex-governador, que fizeram questão de comparecer para adquirir a publicação, teve uma causa nobre.

Toda a verba arrecadada será destinada à Casa Vida, extensão do Instituto do Câncer, onde ficam os pacientes reconhecidamente pobres, que chegam do Interior e de estados vizinhos para fazer tratamento oncológico no Hospital.

Na mesa estavam Joana França, Murilo Martins, Adahil Barreto, Humberto Cavalcante, Lúcio Alcântara, Beatriz Alcântara, Sérgio Braga e Carlos Augusto Viana.






O deputado Leo Alcântara, entre Lúcio e o poeta Carlos Augusto Viana





Ao lado da esposa, Beatriz Alcântara










Antônio Albuquerque elogia o trabalho.








Na fila de autógrafos, Carol e Gustavo Barros de Oliveira, Augusto Alcântara e amigas.









Gerard Boris recebe autógrafo de Lúcio Alcântara
















Duarte Frota, Barros Pinho e o deputado estadual Adhail Barreto.




A infância revelada

Coluna Lêda Maria - Diário do Nordeste


Quem achou que Lúcio Alcântara havia esquecido da sua infância, vai encontrá-lo com boas e leves lembranças de sua cidade natal, São Gonçalo do Amarante, no livro que acabou de lançar, complementado por muitas fotos da sua sobrinha, a arquiteta Joana França.

Em solenidade concorridíssima, noite de quinta-feira, 26 no Ideal Clube, o governador do Ceará 2003/2006 entregou ´O Rio da Minha Infância´. A apresentação do autor e obra foram do jornalista Carlos Augusto Viana. Ricardo Guilherme leu o poema que intitula o livro e vários amigos discursaram. O ministro Ubiratan Aguiar mandou sua mensagem que foi lida pelo presidente da Casa, Humberto Cavalcante, na qual elogiava as poesias e as fotografias. A noite foi de muitos aplausos. Quase mil livros foram vendidos com renda para a Casa Vida.

Entre as mais de mil pessoas que prestigiaram Lúcio Alcântara estavam Murilo Martins, presidente da Academia Cearense de Letras; Ednilo Soárez, presidente da Academia Fortalezense de Letras; e Lurdinha Leite Barbosa, presidente da Academia de Letras e Artes do Nordeste. Constança Távora, Luiz Gastão, César Montenegro, Oto e Tales de Sá Cavalcante, Heloísa Juaçaba, Pedro Henrique Saraiva Leão, Juraci Magalhães, Thomaz Figueiredo, Estácio Brígido, Allan Aguiar, Gen. Théo Basto e Barros Pinho. Os velhos amigos, Iranildo Pereira e Leorne Belém, também marcaram presença. E mais as irmãs, os filhos e a amada, Beatriz, estavam ao lado de Lúcio Alcântara.

O coral Vozes de Outono brindou a noite com seu canto, cujo momento maior foi quando dedicou a música ´Se todos fossem iguais a você´, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, ao escritor e político Lúcio Alcântara.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

A visita de Bento XVI e a canonização de frei Galvão


A visita do papa Bento XVI ao Brasil, em maio, é muito importante para nossa Nação, que tem um grande contingente de católicos. O papa tem caracterizado seu pontificado por uma insistência nas normas, nos postulados, naquilo que constitui a essência da Igreja. É um chamado à responsabilidade dos católicos no sentido de que ninguém é obrigado a ser católico. Mas uma vez que é, evidentemente que com todas as falhas próprias do ser humano, deve procurar seguir aqueles postulados que orientam a ação e a atuação da Igreja.

O papa Bento XVI não tem o carisma da comunicação que tinha João Paulo II, mas tem uma solidez de conhecimento teológico muito grande. Acho que a Igreja Católica brasileira se ressente muito de que seus integrantes, principalmente o clero, tenha uma formação intelectual melhor, sejam mais preparados, inclusive para um debate, um diálogo, um pregação. E o papa, nesse sentido, tem sido um grande incentivador.


Outro ponto alto da visita do papa é a apresentação do primeiro santo brasileiro, que é frei Galvão. Não deixa de ser também uma glória para o Brasil. Normalmente, as canonizações são feitas pelo Papa, em Roma. Bento XVI abriu uma exceção e vai canonizar Frei Galvão em São Paulo, na Missa que celebrará no Campo de Marte, dia 11 de maio.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Discurso pronunciado no lançamento do livro o "Rio da minha infância"

Concluída minha missão à frente do governo do Estado, após breve período de descanso em Portugal, voltei-me para duas atividades com as quais tenho me envolvido ao longo de minha vida tanto quanto me permitiram honrosas e absorventes funções que vim a exercer. São elas, a literatura como fonte de prazer desfrutado com amigos em companhia dos livros, e a medicina como instrumento de prestação de serviços à comunidade. Com mais tempo disponível para o convívio com os intelectuais tenho aproveitado todas oportunidades surgidas para retomar projetos literários adormecidos, cuidar da biblioteca e por em dia leituras atrasadas. Tudo isso em um contexto de confortadora convivência familiar.

Afastado há muito da prática da medicina, nunca a esqueci, e a retomada de encargos administrativos em caráter voluntário à frente do Instituto do Câncer do Ceará, instituição filantrópica sexagenária presidida por meu pai até falecer, me reaproxima do meio médico ao mesmo tempo que enseja ocasião para que continue a prestar serviço à comunidade. Aliás esta festa, que se realiza por reiterada insistência de amigos, constitui uma síntese entre as duas áreas a que me dedico majoritariamente no momento, pois lanço uma publicação em conjunto com minha sobrinha Joana França destinando o produto da venda à Casa Vida da Rede Feminina de Combate ao Câncer meritória iniciativa voltada para o acolhimento de pessoas de fora em tratamento no Instituto.

Esta publicação, que casa texto e fotografia, está pronta há bastante tempo e não pretendia lança-la festivamente não fora persistência do meu amigo e grande poeta Carlos Augusto Viana acolitado entre outros por Sérgio Braga, Marcos Aurélio, Humberto Cavalcante, Erle Rodrigues. A estes e aos demais, meu comovido agradecimento.

O generoso interesse do Carlos Augusto não parou aí e fluiu nas palavras de encômio minha despretensiosa obra. Com ela dou seguimento à realização de um projeto editorial desenvolvido em parceria com a Joana iniciado com o livro “A casa da minha avó” e que une duas linguagens, o texto e as fotos. Ambas publicações vinculadas ao passado, à memória ou o que dela vem superfície.

Tudo começou após o imprimatur da Maria Beatriz a cujo rigor crítico submeti minhas primeiras produções. "O rio da minha infância” é uma pequena amostra de minhas lembranças e da minha relação com o rio que me banhou menino. Não é livro porque não fica de pé, não é poesia, dirão os inimigos do verso livre pois não há rima. Mas é, isso lhes garanto, fragmento da alma, retalho da memória, emoção, afetividade, evocação que certamente irá tocar a quantos tenham um dia mergulhado criança num rio inesquecível.

Mais que acidente geográfico, acidente sentimental, já muito cantado em prosa e verso mas sempre disponível para quem deseje revelar essa relação única, pessoal, intransferível. Em decorrência de muitas viagens que fiz, a trabalho ou como turista, conheci rios famosos e até naveguei em alguns deles no Brasil e no exterior. Entre Koenigswinter e Colônia percorri o Reno em dia quente e ensolarado refrescado pelo vinho azul de tanta ma fama; naveguei nos canais de Amsterdam jantando à luz de vela nos barcos turísticos; vi o Nilo cortando o Cairo, bobo como todo turista, assistindo um espetáculo falso de dança do ventre; olhei incrédulo o Jordão, imaginando como possa aquele fio de água estar à altura dos cenários descritos nas sagradas escrituras; admirei o Sena poluído pelas horríveis barcaças de areia que me distanciavam da imagem romântica de Charles Trenet entoando “La Seine”:”elle coule, coule, elle roucoule, coule/elle chente le jour, la nuit”.

Vi o Tâmisa cruzado pela ponte do milênio, ícone de uma nova era. Mas gostaria de ter encontrado o “Ouse”, riozinho desconhecido no qual Virginia Woolf seu gênio e a alma atormentada. Singrei o Yang Tse na trepidante Shangai, congestionado de embarcações, que engurgitada de tudo vive a China, em cujas margens o colonizador perverso plantou um jardim interditado à chineses e cães. Encontrei o Tejo em Toledo, acanhado. Revi-o majestoso em sua foz de onde partiram intrépidos marinheiros que descobriram meio mundo.

Estive no choupal olhando por cima do Mondego para apreciar na margem oposta a “Quinta das Lágrimas” cenário do drama de Inês de Castro e em Amarante, também no querido Portugal atravessei a ponte romana sobre o Tâmega construída pelo santo do meu nome, Gonçalo. No Douro vi o prodígio de aço de Eiffel ligando as duas margens e os tradicionais rabelos flutuando para deleite dos turistas. Em Roma, passei sobre o Tibre por uma ponte monumental para encontrar o Papa no estado do Vaticano. Da ponte Vecchia , assediado por mercadores de jóias de seculares tradições, debrucei-me sobre o Arno para lembrar Dante, o florentino genial que não chegou a possuir como eu a sua Beatriz.

No Brasil, extasiei-me com o Amazonas, suas lendas, e o abraço com o Negro; o São Francisco, meu Rubicão, cujas margem atingi em Ibotirama transpondo-o para chegar a Brasília para a aventura definitiva da política investido no mandato de Deputado Federal. Não me cabe dizer se venci, mas afirmo ter muito pelejado. Maravilhado, contemplei o espetáculo das cataratas de Iguaçu por mais que seja apenas um rio que tomba no dizer de Eça de Queirós. E o que dizer dos nossos rios, cearenses, nordestinos? Irregulares, inconstantes, espasmódicos, feitos mais de pedra e areia que de água. O Jaguaribe, duas vezes pinçado para conter a hemorragia na denúncia lírica do poeta Demócrito Rocha. O Salgado e seu boqueirão famoso, o Acaraú, berço de nobrezas sertanejas, o Curu, testemunha de feroz batalha entre índios e espanhóis, ainda hoje motivo de controvérsia entre estudiosos. E o meu rio, meu modesto rio? Quase anônimo, minha afeição fluvial permanente, que nunca deixou de correr dentro de mim e hoje emerge neste despretensioso trabalho.

O que sei dele já o disse, mesmo que sem talento e graça. Diante de embarcações majestosas que encontrei mundo afora aflorava a lembrança daquelas canoas modestas calafetadas de alcatrão, e assim mesmo inundadas, sangradas por cuias manuseadas diligentemente. Cruzei meu rio, não para esquecer, pois não é o Lethes da mitologia, mas para lembrar. Fui barqueiro, não para levar os mortos como Caronte, mas para lembrar aos vivos que as águas do tempo não são profundas bastante para sepultar emoções e lembranças. Aos que aqui vieram desejo agradecer emocionado, pois revelam amizade com suas presenças carinhosas o que me sensibiliza definitivamente.

Caderno 3 - Memórias Fotográficas

Entrevista a JOSÉ ANDERSON SANDES - Editor do Caderno 3 - Diário do Nordeste

Lúcio Alcântara:
“Sempre me interessei pelo passado, pela memória, o que guardei ou recuperei olhando para trás” (Foto: Denise Mustafá)

Pequenos poemas, às vezes cortantes, outros amorosos. Lembranças de infância. Memórias nunca são fáceis, as marcas do passado doem, são repletas de perdas. Retratos pendurados numa parede. Ausências jamais preenchidas. Um mundo que se fechou nos jamais. A recordação tem seus mistérios. Lúcio Alcântara se enreda pelo discurso da memória. Ainda em pequenos poemas - ou talvez, nem poemas - frases criativas, mas repletas de saudades - lembrar não é viver. “Na mesa austera da casa da minha avó não havia madeleines, mas a coalhada no prato fundo é puro Proust”, escreveu em “A Casa da Minha Avó”, seu primeiro livro de ficção. Foi nesses pequenos retalhos, frestas de lembranças que Lúcio se “afogou” para escrever “A Casa da Minha Avó”. Agora, repete a fórmula em “O Rio da Minha Infância”, obra que lança hoje no Ideal Clube. A seguir, trechos da entrevista que Alcântara concedeu ao Diário.

O senhor sempre foi um homem ligado aos livros. Agora, não apenas escreve seus primeiros poemas, como funda uma editora, a Labirinto. Sonho antigo?

Sempre tive desejo de ter uma editora, uma livraria e um bar. Muito mais sonho do que projeto realizável. Tive várias experiências editoriais à frente dos Institutos Tancredo Neves e Teotônio Vilela, Conselho Editorial do Senado, que tive a honra de presidir, e a própria Fundação Waldemar Alcântara. No livro ´A Casa da Minha Avó´ apresentei a Editora Labirinto e sua linha de trabalho. Iniciativa sem fins comerciais, é apenas uma atividade da Fundação Waldemar Alcântara.Nestes dois livros, ´A Casa da Minha Avó´ e ´O Rio da Minha Infância´, o senhor percorre momentos da sua vida. No primeiro, são lembranças esparsas - móveis, relógio, chão da sala -, quase a memória involuntária proustiana. O segundo, ´O Rio da Minha Infância´, é repleto de contrastes, paradoxos.


Poderia explicar melhor o contexto em que foi escrito estes dois livros, bem como o seu processo de criação?

Algumas pessoas que leram ´A Casa da Minha Avó´ se surpreenderam com o texto, que consideraram algo melancólico. Não imaginavam, me disseram, que eu fosse uma pessoa triste. Não acho que o seja, embora me considere reservado, tímido mesmo. Não é um comportamento que se espere de políticos, geralmente expansivos, conversadores, alguns até histriônicos. Sempre me interessei pelo passado, pela memória, o que guardei ou recuperei olhando para trás. As duas publicações foram concebidas e realizadas enquanto estava no governo, embora só agora esteja lançando ´O Rio da Minha Infância´. Talvez porque estando cercado de muitos, estivesse, de fato, sozinho. A parceria com a Joana obedece a um projeto gráfico que espero irá continuar. Buscamos uma sinergia entre imagem e texto, muito bem executada pela Expressão Gráfica.


Carlos Lacerda deixou um belo livro de depoimentos, bem como escreveu ´A Casa do Meu Avô´. Quer dizer, ele remexeu mais profundamente seu baú de memórias. O senhor pretende escrever as suas?

No momento não penso nisso, embora tenha muitas anotações. Alguém já escreveu que a descrição da vida não vale a sensação da vida. Por ora, prefiro guardar o meu olhar sobre os outros para o futuro.


Parece que o senhor está vivendo no espaço da saudade, tem muito a contar, a narrar. Estes dois pequenos livros seriam apenas o começo? Pedro Nava, também médico, escreveu suas memórias depois dos 60 anos. E, ao contrário de muitos memorialistas, revolveu seu baú de ossos sem meias palavras. Machucou amigos, inimigos e familiares. O senhor faria o mesmo?

A verdade pode não ser relativa, mas é múltipla. A de cada um, várias, e a verdadeira, muitas vezes desconhecida. Por mais que se tenha memória e critério, não é possível reproduzir integralmente o passado, são apenas retalhos vividos que ressurgem. Para mim Pedro Nava é incomparável como memorialista, pois falou de pessoas, cenários, costumes, com espantosa liberdade. Quem me dera chegar lá!


Quais os livros que mais lhe tocam?

Não tenho livro de cabeceira a não ser a Bíblia, que costumo ler aleatoriamente. Conforme o momento que esteja vivendo, ou o trabalho que realize, posso ter um ou mais livros à mão. No momento tenho três, um deles um livro policial.

A dobradinha política e literatura dá certo?
Comigo dá, porque sou mais leitor do que autor. Com freqüência fico pensando como certos políticos do passado construíram obras literárias extensas e de qualidade. Não creio que com as exigências da política contemporânea isso ainda fosse possível. De qualquer forma, a literatura me ajudou muito a conviver com as agruras da política.


A literatura tem seus códigos, máscaras, artifícios de linguagem. A linguagem está ligada às estruturas de poder. Como o senhor definiria a literatura?

Literatura é a metáfora. A vida em ficção. A ´Comédia Humana´, de Balzac, e ´Madame Bovary´, de Flaubert, são bons exemplos do que afirmo.


Tivemos a Semana de Arte de 22, a Geração de 45, enfim, nossa literatura do Romantismo (século XIX) até hoje parece buscar sua identidade. O senhor acha que, como a nossa República (ainda em construção), temos também, uma literatura em busca de sua identidade?

Cada época tem seus intérpretes. Esse período também terá os seus na ficção, na poesia e no ensaio. A globalização, o terrorismo, a cibernética, a integração econômica, a formação de blocos de países, a emigração maciça de pobres, são fenômenos que já estão e irão, cada vez mais, inspirar novos escritores. O cardápio é rico e aguarda talento e disposição para explorá-lo.O senhor seria um tradicionalista em meio a um mundo globalizado, pós-moderno?Não me considero um tradicionalista. Basta olhar detidamente para minha atuação no Parlamento e no Executivo, Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado do Ceará.Tivemos uma literatura bastante engajada durante a ditadura militar. Hoje nossos artistas se renderam à indústria cultural, de massa. Perdemos com essa opção mercadológica?Na presença da liberdade de expressão, manifestações ´marginais´ ou comprometidas politicamente tendem a desaparecer ou se reduzir significativamente. A indústria cultural é inevitável, não sendo em si mesmo um mal, enquanto oferta de produtos para uma sociedade de massa. Basta assegurar espaço para a cultura nacional, inclusive as manifestações locais e regionais. A cultura brasileira tem qualidade e consistência para resistir ao colonialismo cultural e até ser admirada por outros povos. O maior exemplo disso é a música popular brasileira.


A política deixou muitas marcas, mágoas?

Eu continuo na política. Marcas são sinais de luta. Mágoas, quem não as teve?


Serviço:
O Rio da Minha Infância, de Lúcio Alcântara. Fotos de Joana França. R$ 15,00. Lançamento hoje, às 20 horas, no Salão Nobre do Ideal Clube, com apresentação de Carlos Augusto Viana. Toda a renda será revertida para a Casa da Vida do Hospital do Câncer.



FIQUE POR DENTRO
- A escrita na solidão do poder -
Ricamente ilustrada por sua sobrinha, Joana França, O Rio da Minha Infância mostra um pouco do passado do ex-governador. Frases que apenas dão pistas de sua trajetória, revelam ainda muito pouco. Atualmente vivendo a experiência de estar sem mandato, pela primeira vez em décadas, depois de se desentender com colegas de partido e perder no primeiro turno a reeleição para o Governo do Estado, Lúcio não pensa em escrever suas memórias. Pelo menos por enquanto, atém-se ao lançamento da nova produção literária. ´As duas publicações foram concebidas e realizadas enquanto estava no governo, embora só agora esteja lançando ´O Rio da Minha Infância´. Talvez porque estando cercado de muitos, estivesse, de fato, sozinho´, reflete o autor, que diz realizar um antigo sonho, com a fundação de uma editora, a Labirinto.

Vida & Arte - Contrastes da memória

Entrevista ao Jornal O Povo - Caderno Vida & Arte (Foto: Evilázio Bezerra)

O ex-governador Lúcio Alcântara lança, hoje à noite, o livro-poema O rio da minha infância, pelo selo próprio Labirinto. Em entrevista, por email, Lúcio fala de poesia, livros e nas entrelinhas, de política



Lúcio Alcântara, o político, é um homem do consenso e do silêncio. Consegue calar quando todos esperam a resposta, a polêmica, o confronto. Mergulhado em si mesmo, voltado para a infância, tornou-se poeta, embora negue de pronto o título. "No máximo, escreve textos poéticos", aponta. A indisciplina confessa com o gênero, porém, não impediu o ex-governador de compor versos e transformá-los no livro poema que será lançado hoje à noite no Ideal Clube, O rio da minha vida. A estréia na poesia se deu com o livro A casa da minha avó. Nos dois, a memória da infância é latente. O sabor dos "biscoistos de madeilenes" invoca o menino de São Gonçalo, o lugar de nascença e da criancice, a mobília de casa e das redondezas. Na entrevista a seguir, Lúcio, conversa por email, com a discrição e poucas palavras que marcam sua história, dos livros, dos autores, da literatura. E, nas entrelinhas, os silêncios das respostas contidas




O Povo - No novo livro do Alberto Manguel (A Biblioteca à Noite), ele narra sobre o que vê na sua biblioteca à noite, construída numa espécie de castelo abandonado numa aldeia francesa. Como sei que o senhor tem uma bela biblioteca particular, queria então saber, como o senhor passeia por ela. Que memória o senhor guarda da sua construção. Que livros lhe são mais caros?

Lúcio Alcântara - A biblioteca é minha toca onde nada me atinge. A leitura ou fato de olhar, manusear os livros, me causam enorme bem estar. É uma blindagem contra tudo que me preocupa ou aborrece. Como diz Ina D. Coolbrith no poema “Na Biblioteca” – “aqui estão os amigos que nunca traem, o companheirismo que nunca se cansa”. Minha biblioteca é muito eclética, mas me agradam sobretudo os que herdei de meu Pai, os que tratam de alguma forma da relação medicina/literatura/ arte e os livros sobre livros. Ali também, “entre os livros da minha biblioteca há alguns que já não tornarei a abrir”, Borges, no poema “Limites”.

O Povo - Como o senhor começou a ser leitor? E que livros marcaram sua vida de forma definitiva?

Lúcio Alcântara - Comecei pela biblioteca do meu Pai, passava horas lá. Foi quando li Machado de Assis, José de Alencar, Cronin, “As Memórias de Casanova” , e o “Tesouro da Juventude” entre outros livros. Era o tempo das coleções da Jackson e da José Olympio. De Machado li os 31 volumes da coleção. Muita coisa não guardei, mas acho que devo a essas leituras poder ler e escrever razoavelmente mesmo sem lembrar as regras da gramática. Surgiu daí meu gosto pela leitura e os livros. É difícil falar de livros que me marcaram, mas citaria entre muitos: “Cazuza”; “Os Meninos da Rua Paulo”; “Angústia”; “O Tempo e o Vento”; “A Pele”; “A Tragédia do Homem”; “Lições de Abismo”; “O Arco do Triunfo”; a obra de José Lins do Rego e os cânones da Literatura Universal que consegui ler.


O Povo - Quando o senhor descobriu-se poeta? Quais os poetas que têm sido seus companheiros de vida?

Lúcio Alcântara - Não me considero poeta. Não tenho dimensão para tanto. No máximo escrevo alguns textos poéticos. Coisa recente, de uns oito anos para cá. É a lira tardia que só vai para o papel quando já não posso conte-la dentro de mim. A poesia é minha companheira esporádica. Leio-a de forma indisciplinada, sem nenhum planejamento.


O Povo -
No seu primeiro livro-poema (A Casa da Minhã Avó) são as imagens da infância que “pendem” nos versos. Estão nos objetos as lembranças que compõem o poema. No segundo livro, este que será lançado agora, mais uma vez o senhor percorre o rio da infância e navega pelo “contraste de lembranças”. Por que a infância se tornou tão presente agora, quando o senhor decidiu-se pela poesia? E como imagens e palavras vão se juntando ao longo do livro?

Lúcio Alcântara - Falo da minha infância porque ela foi feliz. E como disse Erico Veríssimo, ninguém se livra do menino que foi. O paradoxo das imagens corresponde à variação caudal dos rios nordestinos e as distintas visões da criança e do adulto. O que era longo, hoje é curto, o que foi largo, agora é estreito e assim por diante. A fusão de imagens e palavras corresponde a um projeto gráfico desenvolvido fotograficamente por minha sobrinha Joana a partir do meu texto. “O Rio da Minha Infância” é o segundo produto da dupla.


O Povo - Literatura e política são duas artes. O senhor lida com as duas. Onde está a interseção delas na sua vida?

Lúcio Alcântara - A Literatura para mim é fundamental pois sobre ela tenho autonomia. Isto é, leio o que, e quando quero. Escrevo se estou inspirado. Já a política...depende de muitas circunstâncias e vontades, é exigente e confortadora porque nos permite contribuir para o bem comum, sendo, não raro, ingrata. Da harmonia entre as duas, tiro meu equilíbrio mental.

O Povo - A literatura e a política são construídas por meio de personagens. No caso da literatura, alguns deles parecem saltar da página para a realidade. No caso da política, algumas vezes de tão inverossímeis, parecem ficção. Que personagens na política mais lhe surpreenderam?

Lúcio Alcântara - Toda proximidade surpreende. Não há ídolos vistos de perto.

O Povo - O tempo não foi dos mais fáceis durante o seu último mandato como governador. Que livros o senhor leu nesse período? E durante o processo eleitoral, quando a tempestade chegou, qual ou quais autores estavam na sua cabeceira?

Lúcio Alcântara - Li pouco durante meu governo. Sobrava pouco tempo para o lazer. Gosto muito de livros policial com certo requinte dos personagens e do ambiente onde se desenrola a trama. Aprecio, sobretudo, os autores ingleses mestres no gênero. No governo como na campanha fizeram-me excelente companhia.


O Povo - “Cruzar a passo a vida é o heroísmo de uma existência”, diz um dos versos do livro “O Rio da minha infância”. Que ocasião da sua vida política o senhor sentiu que “cruzava a passo a vida”?

Lúcio Alcântara - Acho que viver é sempre um ato de heroísmo por mais simples ou exitosa seja a vida da pessoa. Afinal disse o poeta Manuel Bandeira “que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu”.

O Povo - Na apresentação do seu primeiro livro de poesia, o senhor fala de sonhos. O livro inteiro parece que é um sonho que lhe desperta as lembranças. Ou a saudade que ocupa o lugar das madeleines. Nesse último livro, o senhor torna a falar do lugar onde deixou seus sonhos de menino. Quais sonhos o senhor tem agora para a política e para a literatura?

Lúcio Alcântara - Se for verdade que o passado nunca termina de ser construído, vou continuar a trabalhá-lo. Quanto aos sonhos, na Literatura, é ler o mais que puder. Na política, é operar e esperar.



SERVIÇO O rio da minha infância. Será lançado hoje, 26, a partir das 20h, no Ideal Clube. O livro vai custar R$ 15 e o dinheiro será destinado à causa social .

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Revisão constituinte na Assembléia


Merece aplausos a iniciativa da Assembléia Legislativa de fazer uma revisão constitucional. É um trabalho que deve ser feito com cautela, com rigor, profissionalismo e espírito público, com atenção ao que está acontecendo no mundo.

Os deputados estaduais devem aproveitar este momento para corrigir os excessos que a Constituição tenha, e mesmo que o objetivo seja ampliar os poderes dos parlamentares para legislar, além de abrir espaço para participação popular, não é o caso de se estabelecer um cabo de guerra entre o Executivo e o Legislativo. É sim o momento de buscar sinergias, cada qual com sua autonomia, sua independência, mas compreendendo que a governabilidade, na verdade, não é só do Poder Executivo. Isso precisa ficar claro.

Quando se fala em governo são os três poderes, cada qual com sua competência, sua independência. Há uma interdependência que não deve ser perdida de vista. Todos os poderes têm que ter a consciência de que a governabilidade não é uma responsabilidade só do Executivo. Governo são os três poderes.