quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A frase do dia

Quem não lê, não quer saber; quem não quer saber quer errar.

Padre Antonio Vieira (1608 - 1697)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

São Valentim


No dia 14 de fevereiro, consagrado à São Valentim, comemora-se aqui o Dia dos Namorados.

O coração, como sempre, é a grande inspiração publicitária a estimular a aquisição de presentes para oferta entre os enamorados.
A Sociedade Portuguesa de Cardiologia aproveitou o mote para fazer uma campanha publicitária, advertindo sobre os riscos e a prevenção das doenças cardiovasculares.

Fala dos males do coração, não dos partidos de amor, mas dos destroçados pela hereditariedade, o fumo, o sedentarismo, a obesidade e a alimentação gordurosa.

A doença cardiovascular, aí incluídas as doenças cardíacas, os acidentes vasculares cerebrais e as doenças vasculares periféricas, mata anualmente 18 milhões de pessoas no mundo, ou seja uma morte a cada 2 segundos.

Na região europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS), que compreende 52 países, esta doença é a primeira causa de morte. Em Portugal, as estatísticas mostram que mais de 30% das mortes ocorridas anualmente devem-se à doença cardiovascular.

Esclarecedor encarte, de excelente feição gráfica, circulou junto com jornais no Dia de São Valentim, contendo informações úteis sobre a doença e o texto integral da Carta Europeia para a Saúde do Coração, que foi apresentada ao Parlamento Europeu a 17/06/07 e aprovada no Conselho Europeu de Ministros, sob a Presidência Portuguesa, a 06 de Dezembro do mesmo ano.

Para que tenham ideia da importância do documento, que contém 18 artigos, reproduzo um dos seus enunciados que considero muito significativo como compromisso para o futuro: Toda criança nascida no novo milênio tem o direito de viver, pelo menos até os 65 anos de idade, sem sofrer de uma doença cardiovascular evitável.

Saiba mais no encarte Carta Europeia do Coração, que circulou junto com o jornal Público, edição de 12/02/09.

Obama III

Grandes esperanças investidas em governantes não são certeza de feitos à sua altura. O tempo dirá se eram fundadas e factíveis.

Nos Estados Unidos mesmo, Jimmy Carter esteve longe de atender às expectativas que embalaram sua eleição para presidente, em um ambiente marcado pelo trauma da guerra do Vietnam e do escândalo do Watergate, que veio a redundar no impeachment de Ricard Nixon.

O plantador de amendoim que governara a Georgia não esteve à altura do desafio. Atingido pelo escândalo dos contras, envolvidos em operações clandestinas de contra-revoluções na América Central, e o fracasso do resgate dos americanos da embaixada no Irã.

Fez uma presidência bisonha e não logrou reeleger-se, não obstante deva-se reconhecer seu empenho na defesa dos direitos humanos e da democracia, de que até hoje se ocupa como um missionário.

Muito se falou de Obama, apoiadores e adversários. O que não se sabe é como se comportará no exercício do poder, diante de suas ciladas e exigências, limitações e oportunidades. O potencial do governante nunca é de todo conhecido, a não ser diante de uma prova e das suas circunstâncias.

A tragédia da democracia é não realizar suas promessas.

Saiba mais n'O Estado de S. Paulo, edição de 16/11/08; Público, edições de 17/01, 14/02 e 15/02/09; Diário de Notícias, edição de 21/01/09 e revista Pública, edição de 19/02/09.

Obama II

Diz-se que Obama será medido pela comparação com Roosevelt. Embora sempre mencione Lincoln como fonte de inspiração. Ambos, Roosevelt e Obama, assumiram a presidência em momentos críticos para os americanos.

Chegaram ao poder embalados pela esperança e a angústia dos ameaçados pelo desemprego e a miséria.

À recessão de 1929, Roosevelt respondeu de imediato com medidas corajosas, adotadas nos primeiros cem dias de governo. Diz-se dele que traiu sua classe para salvar a América.

Houve quem não gostasse do discurso de posse de Obama, sobretudo quando comparado com os pronunciamentos de campanha, marcados por imagens generosas impregnadas de esperança. Demarcava-se, ali, o presidente do candidato.

A linguagem contida e sóbria é a mais apropriada ao estadista, que tem consciência de suas responsabilidades.

Disse que o mundo mudou e os Estados Unidos precisavam mudar, mas conclamou os americanos a se voltarem para o exemplo dos founding fathers (pais fundadores).

Conciliar os interesses americanos num mundo multipolar, que anseia por uma convivência fraterna e frutuosa, será o grande desafio para quem, como ele, falou tanto de solidariedade e paz.

Talvez esta não seja exatamente a mudança que os americanos desejem.

Reclamava urgência no encaminhamento de medidas para enfrentar a crise. Deparou-se com resistências políticas no Senado, que minaram a hipotése de unanimidade, adiarando a aprovação de seu plano, que segue questionado.

Ainda não conseguiu completar sua equipe de governo. E a renúncia de seu Secretário de Comércio, um senador republicano, denota a rejeição da oposição às medidas econômicas por ele propostas.

Falou de mudanças mas não desprezou de todo a herança de Bush. Manteve os Secretários da Defesa e Interior.

Será que o antigo presidente já começou a assistir a reabilitação que previu em seu discurso de despedida?

Denunciou os lobbies, propôs uma nova ética pública mais rigorosa, no entanto dois nomes que recrutou para o governo deviam ao fisco, e outro estava processado por corrupção no período em que foi governador de estado. Dos três, dois desistiram de assumir.

Pregou a integração econômica entre os países e a comunhão com os povos, todavia seu plano econômico é claramente protecionista em relação aos produtos americanos. Foi o Senado que atenuou o buy american do seu conteúdo.

Que ninguém se iluda, seu primeiro dever é para com o povo que governa.

Obama

Ainda não são decorridos trinta dias da posse de Barack Obama na presidência dos Estados Unidos. Mas já não vejo nos seus olhos o mesmo brilho que iluminava o rosto do candidato. O olhar do presidente já padece daquela opacidade cética, que marca o encontro com o poder e suas realidades.

Durante a campanha muito se falou do candidato. De sua vida, cheia de percalços, de sua família, de sua fé, moldada em circunstâncias singulares, de sua oratória empolgante, de sua tolerância, de sua sensibilidade social, de sua disposição de promover um reencontro da América com o mundo.

Sua eleição despertava uma sensação de desafogo nos Estados Unidos e por toda parte, rompendo com todas as formas de opressão e intolerância, econômica, racial, religiosa, militar. A eclosão da crise econômica, que abalou os americanos e o mundo, tornou mais premente sua vitória.

A posse bateu recorde de público em cerimônias do gênero. Nem o frio rigoroso afugentou a massa que celebrou sua vitória como o último capítulo da luta dos negros e das minorias étnicas. Os bailes e a animação nas ruas festejavam a chegada do primeiro negro à suprema magistratura do país.

Diante das televisões, o mundo acompanhava tudo animado por uma esperança natural.

O juramento sobre a bíblia de Lincoln assinalava o compromisso com a nação e o legado de seu longinquo e célebre antecessor.

Ceará

A imprensa portuguesa noticia a apresentação, no Festival de Berlim, do filme Garapa, produção brasileira que denuncia a fome das crianças pobres do Ceará, alimentadas, a falta de outra coisa, com água açucarada.

Segundo o jornal, garapa é a mistura de água e açucar que estes sertanejos do Ceará dão aos filhos em vez de leite. Porque não há leite para lhes dar; aliás não é só leite que não há. Não há comida e a pouca que há é para os filhos (os pais muitas vezes não comem nada o dia inteiro), não há emprego, não há dinheiro, não há modo de ganhar a vida, não há absolutamente nada a não a ser a ajuda dos centros de dia, da assistência social, dos programas governamentais contra a pobreza.

José Padilha, autor do filme, diz que este não é um filme brasileiro, mas sim universal, porque a fome não é exclusiva do Brasil. Mas, para o jornalista, pode e deve ser lido como a continuação da investigação das contradições da sociedade brasileira, que começou em Onibus 174 e Tropa de Elite.

Guerra Junqueiro, a partir de notícias de imprensa sobre a grande seca de 1877, no Ceará, escreveu o poema A Fome no Ceará, sem nunca ter lá ido. Quem sabe o filme inspira novos intérpretes europeus da nossa realidade.

Na foto acima, vemos o cineasta José Padilha (à esquerda) e o montador Felipe Lacerda (Letícia Pontual/Folha Imagem).

Saiba mais no Público, edição de 13/02/09.

Nemesis

A nemesis do Estado foi o crescimento incontido, tentacular, na economia e na sociedade em geral.

A do liberalismo econômico foi a crença na teologia autoregulatória do mercado.