segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Leitura III

Parábola do lençol

Sarah estava na janela olhando o varal da vizinha quando chamou o marido: - Isaac, venha ver como estão sujos aqueles lençois!

No dia seguinte a mesma coisa:  - Isaac, que horror venha ver! Será possível que a vizinha não aprenda a lavar lençois? Bastava me perguntar, pobre coitada! O tempo passou e os lençois foram ficando cada vez mais sujos.

Um dia aconteceu o milagre! - Hannah recostou na poltrona, ajeitando a bainha do penhoar. - Sarah viu o impossível: o varal da vizinha tinha os lençois mais brancos do mundo. Isaac, venha cá, não acredito, estão mais limpos que os nossos! Como pode?

Então Isaac respondeu calmamente: - Muito simples, mulher. Muito simples. É que hoje cedo eu resolvi lavar nossas vidraças!

Leitura II

O diabinho pediu que o pai lhe ensinasse a fazer maldades. E o pai, didático:
 - Você ainda é criança. Comece fazendo pequenas maldades.
  
 O filho salivou:
 - Quais? Quais?
  - Impeça as pessoas de realizar seus sonhos.
  - Só isso? - decepcionou-se o filho.
  - Calma, no futuro você fará coisas piores.

  O diabinho se esmerou nas maldades: quem queria casar não casou, quem ia viajar não viajou. Anos depois o pai veio parabenizá-lo:

  - Agora você atingiu a maioridade, já pode fazer grandes maldades. As piores, as mais terríveis.
  - Quais? Quais?
  - Ajude as pessoas a realizar seus sonhos.

continua...

Leitura

Acabo de ler Traduzindo Hannah, de Ronaldo Wrobel, editora Record. Dos romances que li ultimamente foi um dos que mais me agradou.

O enredo gira em torno da migração judaica para o Brasil e a Argentina na primeira metade do século passado intensificada pela perseguição aos judeus desencadeada a partir da assunção de Hitler ao poder a frente do nazismo.

O Rio de Janeiro é o grande cenário do romance. A ficção reproduz a vida daquela comunidade na então capital do Brasil com todas as vicissitudes dos imigrantes pobres atraidos para uma nova terra onde os aguardavam oportunidades e dificuldades a vencer.

É a história das "polacas" prostituídas exploradas por rufiões, dos mascates oferecendo seus produtos de porta em porta, da vida que girava num núcleo urbano que tinha como epicentro a Praça Onze.

A moldura institucional era dada pelo estado novo e a ambiguidade política de Getúlio que vacilava entre a Alemanha e os Estados Unidos enquanto sua polícia espionava comunistas entre judeus recém chegados.

Ao longo do texto sobram expressões e referências aos costumes judaicos preservados pela comunidade amalgamada por suas tradições religiosas.

Dessas passagens pincei duas que representam bem o humor e uma forma algo cética com que encaram a vida.

continua...

Poesia

                                                                
                                                      NÃO HÁ DEUSES

Não há deuses e você pode fazer o que quiser:
Jogar uma partida de tênis, dar voltas de carro, fazer algumas compras

Ou sentar-se e conversar, conversar, conversar
Tendo nas mãos um cigarro que vai amarelando seus dedos.

Não há deuses e você pode fazer o que quiser...
Divertir-se à vontade

Mas deisxe-ma, deixe-me só comigo mesmo!
Mas, então de quem é esta presença no qaurto?
Que torna o ar tão calmo e agradável?

Quem, de cada lado, me aflora suavemente o peito
E toca-me sobre o coração
De modo que ele bate pacificado, pacificado?

Quem alisa os lençóis como alisa o oceano verdejante
Quando os peixes na orla estão imersos em sonhos?

Quem abraça e junta meus pés nus
Até que desabrochem - flores de lótus-
Até que tudo esteja bem, perfewitamente bem?

Eu lhes digo: não é mulher nem homem porque estou só
E adormeço com os deuses, com os deuses
Que não existem ou existem
De acordo com o que a alma deseja,
Como um lago em que mergulhamos ou não mergulhamos

D.H.LAWRENCE
Traduzido por César Luiz Paulini


Perda

Incendio no apartamento do marchand romeno Jean Boghici, 84 anos, no Brasil desde 1948, dizimou parte de sua valiosa coleção de arte.

Funcionários da seguradora estão avaliando os danos. Em princípio 90% do acervo do marchand foi salvo do fogo.

Ainda assim as perdas são enormes. O quadro Samba, de Di Cavalcanti, foi consumido pelas chamas. Considerado  uma obra prima do modernismo brasileiro estava avaliado em R$ 50 milhões.

Dono de uma bem sucedida biografia feita da aventura comum aos emigrantes europeus pós segunda guerra mundial o que mais lamentou o colecionador foi a morte de doze gatos que com ele viviam no apartamento incendiado.

Saba mais em O Globo, edição de 19/08/12

Pedágio

O Brasil, quem diria, é campeão mundial na cobrança de pedágio em estradas. Atualmente 15.473 km de estradas ja estão sob esse regime. Com o plano anunciado pelo governo, a malha rodoviária na qual o tráfego se fará com o pagamento de pedágio subirá  para 23.400 km.

Em números absolutos os dados impressionam. Percentualmente são inexpressivos. O percentual da malha concedida à iniciativa privada é de 0,90%; se o novo plano se concretizar a percentagem passará para 1,37%.

Já em estradas pavimentadas nossa situação é lastimável. Só 12,5% delas são asfaltadas contra 64,5% nos Estados Unidos e 47,4% na Índia.

Saiba mais em O Globo, edição de 19/08/12