Litoral
O vento sopra o sal das eras
No rosto crestado dos homens.
Desenha bizarros relevos,
Desvela vestígios de vida,
Sepulta os mortos de novo
No cemitério encoberto.
Beija suave a superfície
Úmida das coisas.
A água no seio dos morros
Irrompe sutil
Em olhos negros de linfa.
Incrustados em tórridas areias
Evaporam lágrimas
No rumo do céu.
Lúcio Alcântara
quinta-feira, 13 de março de 2008
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4 comentários:
Leio que Roberto Carlos virá a Fortaleza para apresentação “gratuita” em festa da Prefeitura atual. O texto merece uma errata: a Prefeitura PAGARÁ regiamente, depois chamará o povo de Sucupira a ouvir. Todos sabemos que o velho cantor nada dispensa em termos pecuniários - nem mesmo se partir dos maiores fãs. Na Justiça, conseguiu há pouco que se recolhesse uma biografia que lhe dedicara um estudioso admirador seu. Lance patético de egoísmo, erro judicial em que se desrespeitou até a liberdade de expressão e o princípio da imprensa livre. O cantor não quer que se diminua a curiosidade sobre a que ele mesmo escreverá/autorizará no futuro. Que a Prefeitura (atualmente é também promotora de festas?) ouse assim estragar os recursos públicos de Fortaleza, não é, porém, nada ético, legítimo para os “sucupirenses” dos terminais imundos, dos ônibus caros e poucos, das lagoas sujas, das áreas de risco semi-abandonadas, das ruas caóticas, da cidade metida no medo, dos vastos bolsões de pobreza, indigência. Já que se candidata à reeleição este grupelho, recomendo-lhe que evite mandar erguer arquibancadas no local: são obra difícil, requerem fiscalização e bons materiais, competência, para que não caiam.
Há uma imaginação infinita na poesia. Não por acaso foi o primeiro estilo de todas as literaturas; só muito mais tarde passou-se à prosa. A metáfora, presente em todas as línguas e mesmo recurso essencial da linguagem enquanto faculdade de comunicação, parece multiplicar-se, voar nos versos. O vento, i.e., as circunstâncias, o tempo, o destino a cercar, abater-se implacável sobre os homens e as coisas. Esculpe uns e outras; não raro vence-os, encerra-os – eis a suprema dor humana. Possível lutar, resistir, reagir, “no rumo do céu”, do futuro – mesmo se há perigos, as lágrimas chegam. Só isto nos torna divinos, portadores do fogo de Prometeu.
Eis o que pode ser a máxima demonstração, pelo contrário, da nossa sociedade permissiva, indolente até não mais poder ser. Em Nova York, comprovado envolvimento com prostitutas fez renunciar o governador, Eliot Spitzer. Por aqui, entre nós, não renuncia quase nenhum, mal se pune, nem quando se prova que é ele mesmo o próprio prostituto a enxovalhar a administração pública.
Sr. Lúcio Alcântara,
Recentemente o Crato teve a oportunidade de melhor conhecê-lo , no lançamento do livro da Fundação Waldemar Alcântara.
Hoje visitei o seu blog , e abri a janela da poesia. Mais uma surpresa , ao sabê-lo poeta, uma condição que lhe atribue , no mínimo, sensibilidade artística.
Gostaria que nos fosse autorizado copiar alguns dos seus textos para postagem , no nosso blogue coletivo : Cariricaturas.
Com admiração,
Socorro Moreira
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