quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Perda


Tudo leva a crer que Marta Suplicy irá perder as eleições para a Prefeitura de São Paulo. Além de perder, corre o risco de perder-se.

Nenhum político gosta, é claro, de perder eleições. Mas a hipótese é uma decorrência da disputa. Portanto, deve estar nas cogitações de quem concorre.

Se é verdade que a derrota não é agradável, nem sempre é uma catástrofe. Grave é a perda da honra, da imagem pública, do respeito da sociedade, que, às vezes, fazem companhia ao insucesso eleitoral.

É o risco que corre a candidata do PT, quando, a pretexto de defender o direito do eleitor a conhecer melhor os candidatos, indaga sobre a vida privada do concorrente, o Prefeito Kassab. É o que faz ao perguntar nos programas de televisão e rádio: sabe se ele é casado? Tem filhos?

A pergunta maliciosa está carregada de preconceito e insinuação malévola, que suscita dúvida sobre a sexualidade do seu oponente. Como não poderia deixar de ser, a manobra cobrou indignação generalizada, que abrangeu seu Partido e até o ex-marido, Senador Eduardo Suplicy.

O desespero eleitoral é mau conselheiro.

Quem diria que a Marta, logo ela, com uma trajetória de sexóloga, que tratou, corajosa, na televisão, de temas espinhosos, considerados tabus, despertando a ira de uma sociedade conservadora, permitiria o uso de expediente tão vil. Independente, defensora de temas polêmicos, como o casamento entre homossexuais, a legalização do aborto. Estrela das paradas gays, joga fora esse histórico, atiçada pelo pavor de perder a eleição.

Está agora ameaçada de perder, e perder-se. Isto é, sair da campanha menor do que entrou, com a biografia arranhada, a imagem desgastada, o futuro político e até profissional comprometidos.

A desculpa que deu é canhestra. A pergunta, segundo ela, seria como outra qualquer, visa revelar o candidato ao eleitorado. Ou ainda, desconheço o assunto, quem cuida do conteúdo dos programas é o publicitário responsável pela campanha.

A adversidade política desvelou uma faceta da personalidade da Marta, que paga um preço pelo mau passo ético.

O episódio adverte que se o feio é perder, como apregoam os mensageiros da má política, mais feio é perder-se.

9 comentários:

Anônimo disse...

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM896885-7823-AUMENTA+O+NUMERO+DE+ROUBOS+NA+ORLA+DE+FORTALEZA,00.html

Anônimo disse...

Artigo digno de circular em um grande jornal de Saõ Paulo.PARABENS

Anônimo disse...

Esse é o Lúcio Alcântara que conhecemos, que perdeu a eleição mais perdeu de pé com a cabeça erquida. Até 2010.

Anônimo disse...

Dr.Lúcio,
Seu post traduz perfeitamente o político ético,honesto e honrado que você é. Políticos como você é uma especie em extinção.Apesar de toda traição(jamais se viu nada igual na história política do nosso estado)sofrida por você em 2006,você soube perder com dignidade e de cabeça erguida,sem perder-se!É uma pena que nesse Brasil onde a maioria das pessoas trocam seu voto pelas "bolsas esmolas" da vida,políticos como você não têm o devido valor que o povo deveria dar.Eu espero que você sirva de exemplo para as futuras gerações de políticos.

Célio Ferreira Facó disse...

Fácil debuchar o perfil do homem público valoroso. Sua visão, ação podem, não raro, definir movimentos sociais, coletivos, amplíssimos; entremostram o futuro. Compreende os impasses, as diversas forças de que dispõe e lança as bases de nova etapa. Nada disso é tarefa fácil; as dificuldades não o assustam. O grande político torna-se o homem certo, na hora certa. Não nasce pronto; prepara-se. O segredo consiste em entender, antes dos demais, o caminho, e apostar pesadamente nos novos valores, especialmente enquanto é voz isolada. Quando a bandeira tornar-se hegemônica, colherá os frutos. Essa firmeza de princípios mantém sempre – quaisquer que sejam as lutas, os dias; quaisquer que sejam os que o cercam.

Nada disso vemos em Marta agora; ela mostrou também, pela pequenez dos ataques, que nem está a ver São Paulo.

Anônimo disse...

Interessante que em 2004, boletim tucano dizia que Marta tinha "dois maridos" e ninguém falou nada a imprensa ficou calada.

Em uma reportagem da Folha, publicada em julho de 2004, Marta foi vítima de ataques pessoais por parte do PSDB nacional na campanha daquele ano. Na época, Marta concorria à reeleição.

A reportagem citava um boletim divulgado pelo site nacional do PSDB, em 29 de julho de 2004, intitulado "Dona Marta e seus Dois Maridos". A nota do partido se referia à participação do senador Eduardo Suplicy (PT), ex-marido da candidata, na campanha dela.

O texto tucano criticava Suplicy, afirmando que ele havia feito um "papel ridículo" ao aparecer ao lado da ex-mulher durante um evento da campanha eleitoral. O boletim seria retirado da rede posteriormente. Na ocasião, a assessoria do partido afirmou ter "errado".

Nesta campanha quem primeiro insinuou a solteirice de Kassab foi Geraldo Alckmin. No seu programa eleitoral gratuito, usou o quadro ‘Na direção do coração’, no qual sua mulher, Lu, beijava seu rosto.

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo, está excelente.
Digno de publicação de jornais de grande circulação, como mencionado acima.

Anônimo disse...

O artigo está excelente, mas publicar nos grandes jornais, jamais são todos desmoralizados e sem nenhuma credibilidade.

Anônimo disse...

O Célio Ferreira Facó traçou com exímia precisão o perfil do POLÍTICO Lúcio Alcântara. Parabens pelo post e pelo comentário!!!