segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Triunfo da Violência

* Artigo de Marcelo Gurgel Carlos da Silva - Prof. Titular da Universidade Estadual do Ceará (Uece)


Por mais paradoxal que possa parecer, o assalto é, hoje, a forma mais democrática da violência. Não faz distinção entre gênero e classe social; e nem mesmo diferencia políticos de magistrados e até religiosos.

O último exemplo dessa modalidade de bandidagem, aconteceu na noite de 6 de outubro de 2008. As vítimas foram o bispo emérito de Limoeiro do Norte, Dom Edmilson Cruz, e o ex-reitor da Uece, Prof. Cláudio Régis Lima Quixadá, no agradável Joaquim Távora, um bairro menos “chic” que o Meireles, palco de importantes agressões.

A onda de assaltos que varre a capital cearense, mal comparando, chega a ter um efeito de um tsunami, com a diferença de que os bandidos locais não limitam a sua atuação à orla marítima. Basta lembrar de dois casos recentes, de ampla repercussão pública: o ex-governador do Estado, Dr. Lúcio Alcântara, que, para não onerar o erário estadual, dispensou a escolta permanente a que faz jus, à custa do contribuinte cearense, teve o seu cordão de ouro, com uma medalha do Coração de Jesus ganha de D. Dolores, ao fazer a primeira Eucaristia, arrancado do pescoço, enquanto caminhava pela Beira-Mar. Com o Ministro Gilmar Mendes, não foi diferente. O seu “cooper” foi interrompido pela ação violenta de um assaltante, que sequer imaginava estar atacando a verdadeira face da Justiça, já que o Ministro é “apenas” o Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Por certo, o “Ronda do Quarteirão” deve ter sido acionado, mais uma vez, para fazer a ocorrência pós-fato consumado, quando os marginais já tinham se evadido, no veículo do Prof. Quixadá, levando objetos pessoais, de valor estimativo, para ambos, após perpetrarem ato de violência, com uso de arma de fogo, ameaçando, inclusive, a integridade física de suas incautas vítimas.
Foi-se o tempo em que se podia guardar dinheiro em casa, pensando em viajar para a Europa, dando um pulo até Amsterdam, a fim de visitar o Rijksmuseum, e lá apreciar, no original, a famosa tela de Rembrandt, A Ronda Noturna (“Nachtwacht”), uma inversão do nosso Ronda do Quarteirão, e que, à época (1642), foi alvo de críticas, face ao uso da luz e da sombra, em detrimento da visão heróica dos guardas. Entre nós, há policiais que não são tão heróicos, gostam da luz dos holofotes e preferem, como alguns, sombra e água fresca.

No caso de outra tela, “O Triunfo da Morte”, de Pieter Brueghel, de 1542, bem que poderia, por uma questão de analogia com o que ocorre nestas plagas, ter o seu nome convertido em “O Triunfo da Violência”, já que nessa relíquia da arte pictórica, interpretada como uma alegoria à Peste Negra (em Fortaleza, é a peste bandida), o conteúdo moral é o da morte implacável, que alcança a todos, sem distinguir classe ou posição social; dela, ninguém escapa.
Lá, como cá, os assaltantes não dispensam nem batina. E é porque Dom Edmilson é um filho predileto de Deus e figura muito querida dos cearenses de bem. Ó tempo, ó costumes.

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