terça-feira, 11 de setembro de 2007

Paternidade envergonhada


"O filho eterno", de Cristovão Tezza(foto), editora Record, é a história de um escritor, pai de uma criança com síndrome de Down, e de sua rejeição ao filho, considerado por ele evidência de seu fracasso. À vergonha de ter um filho que não é "normal", soma-se o fato de ainda não ter publicado um livro. Crueldade e coragem misturam-se na forma como o narrador expõe seus sentimentos em relação ao filho.

O texto é a evolução de duas carreiras, de pai e de escritor, e de suas influências recíprocas O livro embaralha ficção e realidade, o autor, na vida real, é pai de uma criança com essa condição. É inevitável pensar que na crueza do texto haja expiação de culpa.

Há poucos dias os jornais divulgaram que o famoso dramaturgo Arthur Miller teve um filho com síndrome de Down, recolhido desde cedo a uma instituição especializada, e cuja existência sempre omitiu. Nunca falou sobre ele, nem mesmo quando escreveu suas memórias. No fim da vida refez seu testamento para legar-lhe parte substancial de sua fortuna. Os dois episódios revelam a dificuldade que têm alguns pais de lidar com situações como estas. Conheço exemplos na direção oposta. Casais que amam, com dedicação extrema, essas criaturas humanas especiais que Deus lhes mandou.

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