A um ingrato
Não maldigo o rigor de minha sorte,
Por mais feroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade
Quando a dois passos só estou da morte
Do jugo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos da contínua felicidade
E amanhã nem um bem que nos conforte.
Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e quase o mata,
É ver na mão cuspir, à extrema hora,
A mesma boca, aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela deu outrora.
D. Pedro de Alcântara, 2º Imperador do Brasil
in "Os melhores sonetos brasileiros", Coleção Patrícia,
publicada pela empresa Diário de Notícias. Lisboa, 1924.
domingo, 5 de agosto de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário