domingo, 5 de agosto de 2007

Soneto da ingratidão

A um ingrato


Não maldigo o rigor de minha sorte,
Por mais feroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade
Quando a dois passos só estou da morte

Do jugo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos da contínua felicidade
E amanhã nem um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e quase o mata,

É ver na mão cuspir, à extrema hora,
A mesma boca, aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela deu outrora.

D. Pedro de Alcântara, 2º Imperador do Brasil

in "Os melhores sonetos brasileiros", Coleção Patrícia,
publicada pela empresa Diário de Notícias. Lisboa, 1924.

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