O poeta Fernando Pessoa fez uma crítica rigorosa da sociedade portuguesa, em texto curto, mas incisivo, a que deu o nome de O Caso Mental Português. Dele, reproduzo uma pequena parte:
Se de aqui se concluir que a grande maioria da humanidade civilizada é composta de provincianos, ter-se-á concluido bem, porque assim é. Nas nações deveras civilizadas, o escol escapa, porém, em grande parte, e por sua mesma natureza, ao provincianismo. A tragédia mental de Portugal presente é que, como veremos, o nosso escol é estruturalmente provinciano.
E o do Ceará, o que é, pergunto eu?
Saiba mais na revista Os Meus Livros, número 71, de janeiro de 2009.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
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5 comentários:
Bem plantados neste mundo, não será surpresa se antigos esquemas sociológicos já explicarem à perfeição o humor e o cerne das relações sociais de nossa Fortaleza e estado.
Medievais somos. Mesmo à bordo de celulares e computadores ligados à rede mundial de comunicações.
A tal ponto que não só um bairro, mas toda a Cidade devia chamar-se Aldeota, i. e., Aldeia, Aldeiazinha. Jornais ainda publicam uma coluna “social”, para divulgar caras e bocas e vestidinhos de uns fulaninhos na festinha do filhinho ou do vizinho. O mérito não raro substitui-se pelo patrimônio e sobrenome. Padrinhos e amigos famosos ostentam-se com sofreguidão.
Foi Weber quem descreveu esta sociedade: patrimonialista. Esquema bem aproveitado por Raimundo Faoro em Os Donos do Poder, para descrever a formação social e econômica do País, desde a sua fundação. O sábio Faoro já não vive; sua obra nos ilumina.
Os chamados neoliberais quiseram realizar por aqui um milagre: implantar o capitalismo SEM salário, sem renda.
Quem não viu, por último, os casos mais recentes da Aldeiazinha: a prefeita desejaria que o presidente do Legislativo local fosse um indicado seu; quer a Câmara Municipal domesticada. O governador do Estado, aliado ocasional, partilha da tarefa. Não querem que se eleja um livremente pela Câmara. Esta, violentada, mal esboça qualquer indignação.
Querem todos que padre, delegado, prefeito, chefes de jornais, juízes sejam compadres da mesma laia, a vigiar por manter o grosso do rebanho pacificado, sob jugo feroz.
Se viaja o governador, pode ser que a mulher o convença a levar a sogra. Esta, por milagre, irá, sem representar, segundo o próprio governador e seu representante na Assembléia Legislativa, “nenhuma despesa” para o erário público.
Nas páginas de revistas nacionais, semanais, o governo do Ceará manda divulgar repetidamente, com verbas públicas, que o estado é o maior exportador de flores e abacaxis. Como o seria a velha Ilha de Vera Cruz, nos idos de mil e quinhentos e tanto.
Bem sabido que, no século 21, na era da informática, muitos outros produtos, mais nobres, mais elaborados, deveriam estar a sair pelo Mucuripe e Pecém. A Aldeiazinha ainda não chegou à contemporaneidade do resto do mundo. Seus representantes, idem.
Boa pergunta... (?)
Dr. Lúcio e Tiago,
as nossas tragédias mentais são duas, a meu ver.
Além do provincianismo, o nomadismo, o que nos faz sermos desapegados de tudo quanto construimos (e o abandonemos)e de toda a construção de uma esfera de vida pública, coletiva e solidária.
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