Capa dura, coração mole
O renomado autor vai a um sebo. Seu livro exposto. Ele pega um exemplar e espanta-se com a dedicatória. "Ao querido amigo A, com admiração e carinho," etc. Que ingrato, torrou minhas redondilhas na bacia das almas. Se pelo menos vivesse uma tormenta financeira, bancarrota, despejo. Não é o caso. É o único do primeiro escalão do afeto, que tem lá sua renda, seu lastro, seu colchão macio de tanto cobre e futuro.
Pega de novo o exemplar. Não acredita. "Ao querido amigo A". Adquire o volume. "Este é mais salgado, pois tem a dedicatória do autor para seu melhor amigo", diz o sebista. Humilhação. Vai ao solar do ingrato.
Grandes amigos. Tipo Fernando Sabino/Oto Lara Resende. A. põe a culpa na quadrilha de falsificadores de autógrafos, na mulher, no filho viciado, na filha cleptomaníaca. "Você nunca gostou mesmo das minhas redondilhas", chora o pobre autor ao terceiro uísque. "Confesse, seja homem". Os dois choram juntos pela última vez.
Nota: os textos publicados sob o título Humor Literário não são de minha autoria. Deixo de registrar os créditos por já não ter a fonte onde os colhi.
sábado, 25 de outubro de 2008
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