segunda-feira, 20 de outubro de 2008

D. Pedro II


Sabemos que D. Pedro II foi um incansável viajante. Afastou-se do trono algumas vezes para viajar à Europa, aos Estados Unidos e à África. Era um entusiasta da modernidade, se interessava pelo desenvolvimento da ciência, visitava instituições científicas e gostava de conhecer as novas descobertas.

Na França, aproximou-se de Pasteur e Vitor Hugo. Nos Estados Unidos visitou a Exposição da Filadélfia, e falou, deslumbrado, ao telefone de Graham Bell.

Gostava de fotografia, tendo documentado suas viagens, constituindo um formidável conjunto, a Coleção D. Teresa Cristina, que integra o acervo da Biblioteca Nacional.

Pouco conhecida é a viagem que fez à Irlanda, que não menciona em seu diário, e da qual se teve notícia detalhada pelos arquivos recentemente digitalizados do jornal Irish Times. Turista voraz, com aparência de cidadão comum, comitiva modesta, visitou além de Dublin, Belfast, Cork e os lagos Killarney. Isto, em quatro dias, no mês de julho de 1877.

Para terem uma idéia de sua movimentação no território Irlandês, reproduzo a agenda de um dos dias que passou em Dublin:

8 de julho
7,30h-North Dublin Union
Jardim Botânico
Cemitério Glanesvin
Rua Sackville
Hotel Shelbourne

10,00h-Capela da Rua Whitefriar
Royal Dublin Society
Mansion House
Trinity College
National Gallery
College of Surgeons
Royal Irish Academy
Telescópios Grubb
City Hall
Royal Hibernian Academy
Parque Phoenix
Hotel Shelbourne

Comitiva parte rumo à Mallow/Killarney

Como podemos ver era uma agenda intensa, reveladora do ecletismo de suas atenções.

Saiba mais no jornal Folha de S. Paulo, edição de 09/10/08.

Um comentário:

Armando Rafael disse...

Dr. Lúcio:
Que o Imperador Dom Pedro II era um intelectual todo mundo sabe. Ele falava e escrevia fluentemente português, espanhol, francês, inglês e alemão. Discursava em grego e latim e ainda entendia a língua dos nossos índios (tupi-guarani) e o provençal. O segundo imperador brasileiro lia Homero e Horácio no original e ainda sabia rudimentos do hebraico e árabe. Sem falar que era versado em geografia, ciências naturais, música, dança, pintura, matemática, biologia, química, fisiologia, medicina, economia, política, história, egiptologia, arqueologia, arte, helenismo, cosmografia, astronomia (Pedro II é o Patrono da Astronomia no Brasil), esgrima e equitação.
Pouca gente sabe, no entanto que Dom Pedro II tinha verdadeira paixão pela fotografia. Em 1839, o “Diário do Commercio”, do Rio de Janeiro, noticiou a invenção do daguerreótipo (imagens obtidas com um aparelho capaz de fixá-las em placas de cobre cobertas com sais de prata), primeiro aparelho a fixar a imagem fotográfica, também o primeiro processo fotográfico reconhecido mundialmente, criado pelo francês Louis-Jacques Mandé Daguerre. Somente no ano seguinte seriam feitas as primeiras fotografias.
Dom Pedro II adquiriu o primeiro equipamento fotográfico em março de 1840, ainda adolescente, alguns meses antes desses aparelhos serem comercializados no Brasil. O jovem Pedro II completara 14 anos no dia 2 de dezembro do ano anterior, e foi o primeiro brasileiro a adquirir e a utilizar um equipamento de daguerreotipia. Teve início aí uma coleção de fotos raras do Brasil que permaneceu guardada por 110 anos no arquivo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A percepção da importância que a fotografia viria a desempenhar no futuro, em todos os segmentos da vida humana, fez com que Dom Pedro II se igualasse à Rainha Vitória, da Inglaterra, na concessão de honrarias aos praticantes da nova técnica.
Quando foi expulso do Brasil – pelo golpe militar de 15 de novembro de 1889 – Dom Pedro II doou à Biblioteca Nacional quase trinta mil fotografias do seu acervo particular. Essa coleção recebeu o nome da Imperatriz Thereza Cristina Maria. A maior parte do acervo ainda não foi totalmente examinada, mas a coleção já se constitui na mais importante memória visual do Brasil. São informações científicas, históricas, antropológicas e culturais constituídas por fotografias, retratos, óleos, xilogravuras e litografias, que revelam não só as imagens do Imperador e de sua família, mas os grandes temas do século XIX.
Em editorial datado de 15 de julho de 2007, o jornal “Estado de S.Paulo” publicou: “A História, observa Aron, exprime o diálogo entre o passado e o presente. Neste diálogo o presente retém a sua iniciativa. Neste momento da vida política brasileira, de tantas decepções sobre condutas públicas, é um ingrediente de esperança saber que um chefe de Estado (o Imperador Dom Pedro II), durante quase 50 anos, conduziu com integridade, virtudes republicanas e sincera e zelosa paixão pelo Brasil os destinos nacionais”. A Voz da História já está fazendo justiça a Dom Pedro II.
Armando Lopes Rafael (historiador)
Crato-Ceará