terça-feira, 21 de outubro de 2008

Feiura e Beleza


O quadro Uma Mulher Velha, mais conhecido como a Duquesa Feia, obra do pintor flamengo Quentin Massys (Lovain, 1465 - Antuérpia, 1530), sempre foi considerado como um exercício sobre a fealdade ( já leram o novo Umberto Eco, sobre a feiura?), ou uma sátira à recusa ao envelhecimento.

Acontece que a tela destoa do conjunto da obra do artista, que sempre teve um traço poético, mesmo quando retratava o grotesco.

Michael Baum, professor de cirurgia da University College London, com seu aluno Christopher Cook, levantaram a tese de que a mulher teria padecido de uma forma rara e avançada, de doença de Paget, osteitis deformans.

Trata-se de desordem metabólica grave, descrita em 1876, pelo cirurgião britânico Paget, que afeta os ossos, deformando-os, com prevalência na meia idade.

A tese dos médicos ingleses atraiu mais interesse pela exposição em curso, na National Gallery, Rostos do Renascimento - de Van Eyck a Ticiano, dedicado à arte do retrato no período.

A Duquesa Feia integra o acervo do museu desde 1947, e terá, ao seu lado, do mesmo pintor, pela primeira vez em 150 anos, o quadro Um Homem Velho.

7 comentários:

Célio Ferreira Facó disse...

Constitui questão interessante saber até onde alguém assim afigurado conseguiria reproduzir, recompor da Mulher em si mesmo. Esta, como se sabe, é uma especialização da humanidade para si mesma, arquétipo, mito, mais ou menos adotado secularmente pelas fêmeas da espécie, mais ou menos defendido por todos, ubiquamente. O mito é também, necessariamente, jovem, belo. À Mulher não basta a anatomia da fêmea. V. os ícones da Grécia Antiga, os do Cinema, os da Televisão.

À pessoa do retrato, não lhe faltam seios (Moderna fosse, teria recorrido ao silicone.), roupas, decote, enfeites – tudo que tão avassaladoramente ocupa, ocupou as moçoilas. A pele sobremodo madura, notáveis rugas do pescoço e calvície eminente, além da idade que lhe deixará muito para trás a juventude, prejudicam-na assazmente. Evidente, poderia, enquanto indivíduo, tratar de reaproximar-se do mito, recuperar perdas, compensar quesitos ausentes.

E veja-se: é tal justamente a situação das “mulheres” individuais; nenhuma perfaz o mito à perfeição, há apenas mais ou menos felizes representações – muitas bastantes boas. Outras nem tanto.

Kilmer Castro disse...

"Muitas bastantes boas". Calma, já aprendi que duvidar do português de nosso preclaro Facó é exercício pouco profícuo. Apenas quero entender qual a função gramatical da palavra "bastantes" que aparece flexionada no texto. 1) Não me parece tratar-se de advérbio de intensidade, uma vez que já aparece a palavra "muitas". Seria uma redundância além do quê não deveria estar no plural. Poderia ser um adjetivo, quando então acompanharia o substantivo. Mas não me parece haver nenhum substantivo na frase. 3) Poderia ainda ser pronome indefinido, quando também seria flexionado junto com o substantivo ao qual precedesse. Novamente vale a observação do ítem 2: não há substantivo. Apazigue minha dúvida, nobre Facó.

Anônimo disse...

Se o nosso Presidente, apesar de ter subscrito a reforma ortográfica da língua portuguesa, comete erros, a grande maioria de concordância, por coincidência, um simples palpiteiro de blogs também tem direito a seus momentos de glória, digo de Lula!

Será que eu não confundi substantivo com objeto direto, resultando em um comentário profícuo?

Kilmer Castro disse...

Preclaro anônimo, não é um simples palpiteiro. É Célio Ferreira Facó.

Não entendi qual a vantagem que possa resultar de um comentário que confunda substantivo com objeto direto.

É bem verdade que o plural de "bastante" pode ter sido mero erro de digitação(perfeitamente desculpável). Mas, se não fôr, poderá ser uma rara licença gramatical cuja fundamentação valha a pena conhecer, advinda de quem sabe mais do que nós.

Célio Ferreira Facó disse...

Alternativa 2, Kilmer: adjetivo.

“Bastante” é usado amiúde como advérbio. Pode ser também adjetivo; neste caso ganha plural. Por causa da elipse do SUBSTANTIVO “representações” (de Mulher), no plural, introduzido imediatamente antes, na mesma linha. “Muitas” está como pron. substantivo e exerce a função de sujeito na oração.

1) você sabe que não poderia ser: advérbio é invariável. 3) também não: pron. indefinido é um, algum, nenhum etc.. A oração completa: “Muitas bastantes representações são boas.” “Muitas”, na minha construção, por causa da elipse, está como pron. substantivo. Na oração há também inversão da ordem: hipérbato.

Como no estilo do pequeno Yoda, da saga Star Wars. Obrigado pela oportunidade da reflexão.

Kilmer Castro disse...

Seu estilo "Mestre Yoda" já foi denunciado por mim desde longa data. Mas considerei a explicação sensacional e consistente. Não tinha considerado a oração completa da forma como foi colocada, novamente e pra não fugir ao estilo, de forma invertida. Pra facilitar a compreensão aos pobres mortais que engatinhamos na língua eu teria usado, de forma mais direta: “Muitas representações bastantes são boas”. Isso mostra um interessante uso da duplicidade de adjetivos(bastantes e boas), o que é perfeitamente cabível. Grato pela luz.

Anônimo disse...

Kilmer e Célio Ferreira Facó, que tal comentar os assuntos do blog, vocês estão muito auto-referentes!