quinta-feira, 8 de março de 2007

Rio São Francisco - Estrada Sinuosa


Uma estrada sinuosa, que exige fôlego e paciência dos que a percorrem. Esta parece ser uma boa imagem para definir as negociações em torno da transposição das águas do rio São Francisco, assunto que o governo federal espera traduzir em obras ainda este ano. Isso, se conseguir vencer os desvios e paradas ocasionais, pois o percurso é longo.

Tão longo quanto os 2.800 metros de extensão do São Francisco, que percorre alternadamente cenários de natureza exuberante e aridez absoluta. Do ponto em que nasce, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até desembocar no mar, entre Sergipe e Alagoas, o Velho Chico enfrenta uma corrida de obstáculos e culturas variadas, sendo que sua bacia atinge 504 municípios de sete estados brasileiros.

Por mexer com tanta gente, a transposição das águas do São Francisco mobiliza forças sociais, promove interesses políticos e desperta paixões - algumas despropositadas. Geralmente, as vozes que se levantam contra o projeto alegam que ele causaria males ecológicos e econômicos ao País. Se assim fosse, estaríamos defendendo o indefensável. Mas não é.

Hoje, mais do que nunca, é possível investir em grandes obras estruturantes de forma planejada e responsável, sem desperdício de recursos nem danos para o meio ambiente. Há muitos anos estudos são feitos acerca do aproveitamento de uma pequena parte das águas do rio São Francisco, que não sofreria com as obras.

Antes de começar o trabalho, é necessário um parecer favorável do Relatório de Impacto Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Rima/Ibama), entre outras providências. Agora, é hora de unir conhecimento técnico, planejamento ambiental, campanhas de informação, responsabilidade social e, sobretudo, vontade política.
A Assembléia Legislativa do Ceará deu mais um passo nessa caminhada em prol de antigas reivindicações, instalando um comitê de defesa de transposição das águas do São Francisco, com representantes de órgãos estaduais, universidades e entidades, como a Fiec.

Nacionalmente, as negociações, permeadas por avanços e recuos, pequenas vitórias e grandes polêmicas, têm sido levadas adiante pelo Ministério da Integração Nacional, com o acompanhamento de vários ministérios e do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco, no qual a sociedade civil tem importante participação.

A transposição do São Francisco não resolverá todos os problemas referentes à falta de água no Nordeste. Ela vai contribuir imensamente para um projeto maior, que interliga bacias em vários pontos da região, de modo a distribuir água o ano inteiro e garantir condições mais dignas de sobrevivência para milhares de famílias.

Pesquisas e experiências desenvolvidas nas últimas décadas comprovam que o semi-árido é propício a atividades lucrativas, como fruticultura, ovinocaprinocultura, apicultura e produção de oleaginosas (mamona, amendoim, gergelim, girassol). O projeto do São Francisco, junto com medidas sérias de integração hídrica, pode levar a região a um novo modelo de desenvolvimento.

O Ceará inaugurou há pouco tempo a primeira etapa do Canal da Integração e trabalha, de forma planejada, há 15 anos na construção de açudes, canais, estações de tratamento, adutoras e poços profundos que se comunicam por todo o Estado.

Hoje, os programas que dão certo evitam pulverização de recursos, promovem a articulação das ações setoriais do governo e mobilizam forças da sociedade civil, principalmente dos beneficiários das medidas, formando parcerias estratégicas e duradouras. A articulação institucional intergovernamental potencializa esforços e recursos, tornando possível a complementariedade de ações.

Todos conhecem o episódio das jóias da Coroa, que D. Pedro II jurou vender caso necessário, em troca da solução da questão nordestina. Que a transposição das águas do rio São Francisco não se transforme em uma miragem no deserto nem esbarre na má vontade gerada pela desinformação.

A última grande estiagem nordestina (1998-1999) consumiu R$ 2 bilhões só do governo federal. Isso é quase metade do valor calculado para financiar a transposição do rio São Francisco.

Um comentário:

Anônimo disse...

bom comeco