sábado, 14 de novembro de 2009

Fisiologismo

Oliveira Lima, diplomata brasileiro, está entre os escritores brasileiros que se debruçaram em estudos comparativos entre o Brasil e os Estados Unidos na busca de explicações para a assimetria de desenvolvimento dos dois grandes paises das américas.

Não fora o pioneirismo de Hipólito José da Costa que empreendeu, um século antes do diplomata pernambucano, viagem de observação a serviço do Conde de Linhares, pela costa leste dos Estados Unidos tendo produzido relatório com observações agrícolas, industriais e botânicas sobre aquele país, poderia ser considerado o fundador dessas comparações de que cuidaram mais tarde, entre outros, Monteiro Lobato e Viana Moog.

Com efeito, Oliveira Lima publicou, datado de Washington em 1899, o livro Nos Estados Unidos - Impressões Políticas e Sociais, que reúne escritos de 1896 a 1899 estampados originalmente na Revista Brasileira e no Jornal do Comércio.

Foi o início de estudos que se sucederam no tempo com o fim de analisar as razões da disparidade de desenvolvimento entre o Brasil e os Estados Unidos de que se ocupariam vários autores.

O Senado Federal vem de reeditar a mencionada obra com proveitosa introdução do diplomata Paulo Roberto de Almeida que prepara de modo conveniente o leitor para melhor aproveitar o texto que se segue.

Retirei do livro trecho que reproduzo por considerar útil à comparação feita com o Brasil quanto a nomeação discricionária pelo executivo de ocupantes de funções no governo por critério de natureza política.

Foi o Presidente Cleveland que segundo o autor "pôs mais da metade dos lugares que o chefe eleito da nação tinha ao seu dispor, na competitive list ou lista dos lugares dados por concurso e cujas nomeações não são de serviços partidários : foram assim subtraidos à ganância dos politiqueiros quase todos os empregos federais abaixo de chief clerk, e muitos nas alfândegas, recebedorias das receitas internas etc".

Até Cleveland, "o presidente contava para distribuição com nada menos de 125.000 cargos somando anualmente mais de U$ 60 milhões de dólares de vencimentos".

Como no Brasil a prática não mudou está aí uma das causas do nosso atraso. É o que permite, em nome da governabilidade, o acordo entre Cristo e Judas, como admitiu Lula, e a apropriação dos trinta dinheiros pelos donatários dos cargos.

Esse é o preço altíssimo a ser pago pela fragmentação partidária que dificulta a constituição das maiorias parlamentares indispensáveis à atuação dos governos

Um comentário:

Célio Ferreira Facó disse...

Fácil aos historiadores e sociólogos explicar as razões da inegável preponderância dos EUA sobre o Brasil, por exemplo.

Muito mais nova, é também aquela nação muito mais rica e desenvolvida.

Povoaram-na, desde o começo, imigrantes ingleses e franceses que ali chegavam com a família.

Os portugueses para aqui vinham sós, eram meros soldados ou mercenários,ou bucaneiros, ou aventureiros desocupados na Europa.

A ideologia protestante, que privilegia e encoraja o enriquecimento pelo trabalho e pelo dinheiro bem ganho estava na cabeça e no coração dos colonizadores da América do Norte.

Entre nós, jesuítas e outros setores da igreja Católica ainda viam com reservas o enriquecimento e a indústria humana.

Uma constituição democrática, até hoje vigente quase como foi escrita pelos fundadores da Federação norte-americana, distribuiu e confirmou direitos iguais para todos.

Aqui, nos trópicos, elas sucedem-se antes que possam ser aprendidas: a da monarquia, a da República, e, neste período, várias e várias, cada uma cheia de emendas.

A Segunda Guerra mundial consolidou a economia norte-americana, livre dos bombardeios e na condição de supridor das armas e dos alimentos necessários para que a Europa se destruísse a si mesma.

Do ponto de vista da mentalidade das elites dominantes, as dos EUA foram sempre comprometidas com povo norte-americano, o bem-estar na nação.

Entre nós, são elites burras, predadoras, mal-educadas, muito pouco identificadas com o povo, os recursos, a autonomia do Brasil.

Isto faz que qualquer governadorzinho, um deputadozinho qualquer presumam quase sempre que podem agir talvez fora da lei.

Nos interiores como nas capitais.