quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Poesia

Perguntas de um Trabalhador que Lê

Bertolt Brecht

Quem construiu a Tebas de sete portas
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruida -
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha sòmente palácios para seus habitantes? Mesmo
na lendária Atlântida.
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.

Tradução de Paulo César Sousa

Um comentário:

Célio Ferreira Facó disse...

Brecht foi outro dos tantos talentos que saudaram o advento do socialismo real, no século passado, como a grande redenção da humanidade e aperfeiçoamento do Estado.

Depois a realidade daquelas experiências haviam de mostrar, não raro, ditaduras cruéis, conduzidas por uma elite arrogante, longe do povo e do ideário revolucionário, democrático.

Jaz agora, quase por toda a parte, só o neoliberalismo, meio cego, sempre manco, incapaz de sustentar-se a si mesmo sem as bases sólidas do Estado.

Como paga, mantém para com este, o projeto do Estado mínimo, para que se maximize a exploração, o lucro, e a apropriação particular, indiferente ao homem, à sociedade mesma em que se forma.

Institui que não há senão indivíduos, famílias, recursos, que podem ser tomados como agentes da produção. Ou nada.

Assim quer dispor as coisas.

Assim estão agora as instituições quase por toda a parte.

Aqui jaz um mistério.

Não era antes de esperar que fosse sempre o interesse comum e o da maioria que prevalecesse?

Habitantes, trabalhadores, soldados, navegantes, oficiais, empregados, homens, mulheres, jovens, velhos, não são estes os que realizam todas as empresas, conduzem todas as tarefas?

Eis os que celebra Brecht em seu poema, espantado de que não sejam eles todos, também, as figuras principais que considerar em toda a parte.

Virá um dia este tempo?

Por ora, vemos apenas uns líderes vagos a mandar fazer, com o dinheiro e as mãos e os projetos de muitos, para depois apresentar a obra como coisa sua, feito seu.