segunda-feira, 15 de junho de 2009

Intelectuais

Até que ponto pessoas que mais se arrogaram o direito de dar lições aos outros praticaram as virtudes morais que preconizavam em suas pregações?

Quer dizer, até onde pregoeiros morais se comportaram de forma exemplar enquanto cidadãos comuns? É disso que trata Paul Johnson em sua obra Os Intelectuais, lançamento recente no mercado editorial.

Johnson, historiador inglês, é autor de obras renomadas como a História do Cristianismo e a História dos Judeus, tendo sido ainda diretor da revista New Statesman.

Em seu novo livro, não hesita em abalar a imagem de conceituados intelectuais, expondo as mazelas de suas vidas privadas em contraste com suas reputações públicas.

Misoginia, avareza, inveja da fama alheia, maus filhos, péssimos pais, são atitudes que marcaram personagens conhecidas pela forma como pugnaram em defesa de ideias altruísticas e generosas.

Rousseau, conhecido pela preocupação com a educação de crianças e jovens, forçou a mulher a entregar, sucessivamente, quatro filhos à uma instituição de caridade, para não se dar ao incômodo de os criar.

Marx, que pregava a libertação da classe trabalhadora, nunca pôs os pés numa fábrica, vivia às custas de Engels, era um tirano no lar e não pagava as criadas que o serviam.

Ibsen, pioneiro da emancipação feminina, engravidou uma empregada doméstica e nunca conheceu ou reconheceu o filho.

Brecht, defensor dos direitos humanos, era indiferente à felicidade daqueles que o rodeavam, a começar pelos filhos.

Sartre, idolatrado por certa esquerda solidária, era um poço de egoísmo e um pensador político muito contraditório.

Menciona o autor, ainda, um certo fascínio dos intelectuais pelos ditadores de todos os matizes, aos quais emprestavam o prestígio de sua admiração. É o que chama de a fuga da razão.

Mussolini, Stalin, Hitler, Mao, tiveram sua corte de intelectuais para os louvar e aplaudir.

Daí, a principal conclusão desta obra: o perigo da inteligentzia colocada a serviço da tirania. O pior de todos os despotismos é a tirania das ideias, segundo o autor.

Enfim, é mais fácil falar que fazer. Ou ensinar que praticar. É a lição a tirar das vidas desses famosos, que foram entronizados na história pelo que disseram de público e não pelo que fizeram em suas vidas íntimas.

Saiba mais no Diário de Notícias, edição de 23/05/09.

11 comentários:

Célio Ferreira Facó disse...

“Homo sum, nihil humani a me alienum puto”, dirá então cada pensador, filósofo, poeta,
escritor, artista um em sua defesa. Como o sábio Terêncio na Roma Antiga: “Nada humano reputarei estranho a mim”.

Com efeito. Biógrafos e historiadores acharam deslizes inesperados na conduta de tantos.

Medo, covardia, avareza, contradições, usura, dependência de drogas, má conduta profissional, tirania, arrogância, talvez a desonestidade, egoísmo, engodo - a lista seguiria vasta. Cheia de itens que atribuir a qualquer mortal como também a Freud, Platão, Sócrates, Francis Bacon, Galileu, Thomas Mann e tantos... e tantos... Estes, porém, distingue-os uma ou outra virtude ou a inteligência bem exercitada num ramo de atividade. Souberam e puderam achar pérolas sobre a palha humana. Eis o seu mérito imorredouro.

Acaso é menor ou menos profundo O Ser e o Nada por que Sartre foi durante algum tempo stalinista ou experimentava algumas drogas?

Simone de Beauvoir deixa de ser a formidável autora de O Segundo Sexo por que, apaixonada, podia dar-se a cenas de ciúmes como qualquer mocinha do interior?

O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil, acaso perde a intensidade mais vibrante da reflexão por que carece de um epílogo?

Machado de Assis é menor ensaísta da alma nacional por que se dedicou ao romantismo no começo da carreira?

A Rui Barbosa imputou-se o desastre da má política monetária, subserviência ao liberalismo norte-americano e ambigüidade na carreira política, oscilando entre republicanos e monarquistas. Será por isto menor, nele, o jurista, o escritor, o artista, o homem?

Caminhos do Turismo pelo Turismólogo disse...

O autoconhecimento é um caminho difícil, mas o único que encontramos a paz. É termos que matar os nossos egos, que hoje são levados ao olimpo, num caminho inverso do que temos que trilhar. Conhecer a si mesmo é o que devemos fazer antes de apontar. Porém, é um caminho de renúncias, mas de conquistas concretas. A maioria das pessoas hoje vão pela lei do menor esforço, pelo caminho fácil, o da porta larga. A porta estreita é para poucos.
Precisamos estar em constante auto-observação. Só assim erramos menos.
Como diz Milton Nascimento:
Caçador de Mim
Milton Nascimento
CAÇADOR DE MIM
Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim

É a luta contra nós mesmos!
Eliane

Vó Luisinha disse...

Interessante...
A gente, que não é intelectual, nem nada, não consegue conceber muito que alguém que prega alguma coisa, viva de forma diametralmente oposta a isso.
São os mistérios da natureza humana, né?

Sávio Bezerra disse...

Olha s situação do Senado Federal.

De Adriano Ceolin:

Prima da governadora Roseana Sarney (MA), Maria do Carmo de Castro Macieira foi nomeada no Senado por meio de ato secreto. O documento determina o ingresso dela num cargo no gabinete ocupado pela própria Roseana, então senadora pelo PMDB do Maranhão.
O ato de nomeação da prima de Roseana foi assinado pelo então diretor-geral da Casa, Agaciel da Silva Maia, que deixou o cargo em março por ter ocultado da Justiça casa avaliada em R$ 5 milhões.

Sávio Bezerra disse...

MAIS UMA NO SENADO :

De Leandro Colon, Rosa Costa e Rodrigo Rangel:

Aspirante a modelo, a jovem Nathalie Rondeau foi nomeada em 26 de agosto de 2005, por meio de um ato secreto, para trabalhar no Conselho Editorial do Senado. Nathalie, 23 anos, é filha de Silas Rondeau, ex-ministro de Minas Energia, afilhado político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Sávio Bezerra disse...

MINISTÉRIO PÚBLICO :

De Adriana Vasconcelos:

O representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), o procurador Marinus Marsico, protocolou representação na última sexta-feira solicitando ao tribunal que apure as irregularidades envolvendo mais de 500 atos administrativos que não foram publicados no Boletim Administrativo do Senado, mas garantiram nomeações, criação de cargos e pagamento de gratificações ao longo dos últimos dez anos. Marsico pede o cancelamento de "todos os seus efeitos financeiros, exigindo-se a devolução dos recursos auferidos pelos agentes públicos nomeados dessa maneira".

O Senado terá 15 dias para se pronunciar antes que o TCU inicie a investigação

Sávio Bezerra disse...

A Intelectualidade como Classe Social


Os termos “intelectuais”, “intelectualidade”, “intelligentsia” são bastante ambíguos e recebem as mais variadas definições e abordagens. Nas representações cotidianas, um intelectual é alguém “inteligente”. O termo intelligentsia é, formalmente mais próximo deste sentido, mas mais distante em seu conteúdo, já que não é uma referência positiva e sim negativa em relação ao coletivo dos intelectuais. Do ponto de vista teórico, indo além das representações cotidianas, os intelectuais não se caracterizam por sua elevada “inteligência” e sim por sua posição no conjunto das relações sociais. Por conseguinte, é através do seu papel na divisão social do trabalho que podemos entender quem são os intelectuais. Podemos, a partir desta visão, definir os intelectuais como uma classe social composta pelos indivíduos dedicados exclusivamente ao trabalho intelectual. Tal classe social assume formas diferentes em sociedades diferentes.

Kilmer Castro disse...

Nosso nobre Facó esclareceu e fundamentou o argumento supremo a favor de nosso presidente.

Seria Lula menos estadista pelo inevitável desrespeito demonstrado à norma culta?

Creio que a simplicidade que demonstra no trato de todos os assuntos torna mais claros os problemas e menos traumáticas as soluções, como geralmente são as propostas por tecnicistas e tecnocratas. Um homem do povo!

Sávio Bezerra disse...

E O NOSSO SENADO COMO FICA ??????
E OS SENADORES CEARENSES COMO REAGEM ??????????????????????????

A procuradora deve requisitar, por exemplo, o relatório da comissão de sindicância, instalada pelo Senado, que analisa os boletins secretos, e poderá abrir um inquérito no decorrer da investigação.

Anna Carolina Resende é quem investiga, também, a suspeita de uso irregular de passagens aéreas pelos parlamentares. Nos últimos dias, o jornal "O Estado de S. Paulo" tem revelado que os atos secretos foram usados para nomear parentes, amigos e criar benesses para servidores e senadores. Os documentos mostram, por exemplo, nomeações de parentes do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

O presidente da Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, Renato Casagrande (PSB-ES), disse nesta terça-feira que a Mesa Diretora da Casa tem responsabilidade na edição dos atos administrativos secretos. Ele anunciou que vai reunir a comissão para elaborar uma série de medidas para sanar o “mar de lama” que se transformou o Senado. Elas vão ser entregues para o presidente José Sarney (PMDB-AP).

Claudio Sena disse...

Boa dica de leitura.
Vou caçar este livro.

Na ponta da língua disse...

Uma pequena correção. OS INTELECTUAIS não é um lançamento, mas um relançamento. A edição que possuo é da década passada.