Sempre escutei, com uma ponta de orgulho, confesso, que saudade era uma palavra única, exclusiva. Não haveria similar, em qualquer outra língua, que se lhe igualasse, na síntese, com que traduz de forma singela sentimento tão complexo.
Até encontrar um dia, no blog Bordado Inglês, do jornal Público, de Andreia Azevedo Soares, uma luso-brasileira, conforme se define, a cursar um doutoramento em Londres, que sentia, ao mesmo tempo, presunção e orgulho desta exclusividade semântica.
Confessa que tem procurado com afinco, sobretudo na língua inglesa, palavras que desmintam a exclusividade do português.
Depois de desconsiderar homesick, que julga ser mais específica, traduzir mais uma saudade de casa, de um espaço acolhedor de que estamos temporariamente privados, descobriu no livro The Fifth Child, de Doris Lessing, um verbo, to yearn, que origina um substantivo yearning, que considera próximo da nossa saudade.
Por sugestão de alguém que leu o post, foi a procura do sentimento de saudade, expresso em várias línguas no livro Ignorance (versão traduzida para o inglês), de Milan Kundera. Eis o seu achado:
A palavra grega para "retorno" é nostos. Algos significa sofrimento. Por conseguinte, nostalgia é o "sofrimento" causado por um anseio pelo retorno. Para expressar essa noção fundamental, a maioria dos europeus utiliza uma palavra derivada do grego (nostalgia, nostalgie), mas tambem outras palavras com raizes nas suas línguas nacionais : añoranza, dizem os espanhois; saudade dizem os portugueses.
Frequentemente significam apenas a tristeza causada pela impossibilidade de retorno ao lugar de origem, um desejo intenso, inatíngivel, de volta ao país, ao lar, o que em inglês é chamado de homesickness; ou em alemão heimveh, ou ainda em holandês heimvee. No entanto esse uso corrente reduz essa rica noção fundamental a apenas sua dimensão espacial.
segunda-feira, 9 de março de 2009
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