sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Memória


Em livro recém lançado nos Estados Unidos, The Woman Who Can´t Forget (A Mulher Que Não Consegue Esquecer), Jill Price, 42 anos, conta o que tem sido conviver com uma memória infalível.

Segundo ela, é capaz de lembrar com exatidão de qualquer dia de sua vida. E recordar o que comeu no almoço, onde passou a tarde, qual era a atração da televisão à noite, as principais manchetes dos jornais. O arquivo registra tudo, a partir dos 14 anos de idade.

É como se alguém, conta Jill, me seguisse cotidianamente com uma câmera e guardasse a fita em uma prateleira no fim do dia. Quando escuto a menção de uma data, é como se eu fosse até a prateleira, pegasse a fita e colocasse para rodar.

Eu repasso minha vida o tempo todo e isto está me deixando louca, queixa-se Jill. O que a maior parte das pessoas chama de dádiva, eu chamo de fardo, continua.

Foi com estas palavras que se dirigiu ao pequisador James McGaugh, fundador do Centro de Neurobiologia do Aprendizado e da Memória, da Universidade da Califórnia, pedindo ajuda para o seu caso.

Em 2005, após cinco anos de estudos, a equipe liderada por McGaugh concluiu estar diante de uma nova doença, que ganhou o nome de hyperthymestic syndrome, por analogia com a palavra grega thymesis, que significa lembrança.

A rapidez e exatidão com que lembra os fatos e datas, elimina a hipótese de uma estratégia de memorização ou cálculo, desenvolvida por alguns autistas superdotados, diz McGaugh.

A divulgação da história de Jill, com a descrição científica de uma nova doença, fez com que outras pessoas, com queixas semelhantes, procurassem a equipe da Universidade da Califórnia.

Até agora, dois casos, além de Jill, tiveram diagnóstico confirmado.

Saiba mais na revista Época, edição de 02/06/08.

2 comentários:

Célio Ferreira Facó disse...

Conhecido conto de Jorge Luís Borges narra os tormentos de alguém que pudesse de tudo lembrar-se. Chama-se Funes, o Memorioso. Uma memória infalível, vasta como todos os detalhes do cotidiano será talvez o maior castigo a uma consciência. Alguém assim dotado não pode senão sofrer repetidamente todas as dores vividas e não poder jamais descansar. Longe de ser uma virtude natural, será um flagelo a impedir a paz de espírito. Os próprios métodos psicológicos hoje conhecidos baseiam-se na capacidade de esquecer e, pois, renovar, mudar as impressões do entendimento.

Kilmer Castro disse...

Interessante notar que o livro refere-se a uma mulher e não a um homem. Faço a ressalva não com bases em estatísticas(não sei se esse padrão se repete), mas numa constatação: as mulheres estão mais preparadas para os novos tempos do que os homens.

Nós estamos muito mais acostumados a processar as idéias de forma absolutamente lógica, sequencial, encadeada. Daí nossa enorme deficiência em cuidar de várias coisas ao mesmo tempo, coisa absolutamente comum às mulheres. Estas, pra nosso desespero, conseguem dar conta de várias tarefas ao mesmo tempo. Processam em paralelo, muito mais parecido com os modernos computadores. São mais rápidas para decidir, ainda que, pra nós homens, de forma absolutamente fora de nossa lógica(ou ilógica, como preferimos chamar).

Essa seria a dificuldade oculta mais grave a ser enfrentada pelo nobre xerife nessas eleições: concorrer com duas mulheres. Sorte dele que Lourizianne já declarou que não consegue se programar para mais de 6 meses à frente.