segunda-feira, 5 de maio de 2008

Reflexão


Este ano assinala 400 anos de nascimento do Padre Antônio Vieira. Jesuíta português que foi missionário, diplomata, profeta, pregador e homem de Estado.

No Brasil, viveu largo tempo na Bahia e no Maranhão, tendo chegado em missão até a Ibiapaba, no Ceará.

Deixou belíssimas peças vazadas em estilo único, tendo sua obra levado o poeta Fernando Pessoa a denominá-lo Imperador da Língua Portuguesa.

E, para homenageá-lo, refletindo sobre a real dimensão do homem, reproduzo sermão que proferiu na igreja de Santo Antônio, em Roma, em uma quarta-feira de cinzas:

Ora suposto que já fomos pó e não pode deixar de ser, pois Deus o disse; perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz; hic jacet. Estão essa praças no verão cobertas de pó: dá um pé de vento; levanta-se o pó no ar, e que faz? O que fazem os vivos, e muitos vivos. Não aquieta o pó, nem pode estar quedo: anda, corre, voa: entra por esta rua, sai por aquela: já torna adiante, já torna atrás, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo toma, tudo cega, tudo penetra, em tudo e por tudo se mete, sem aquietar, sem socegar um momento: enquanto o vento dura. Acalmou o vento, cai o pó, e o vento parou, ali fica: ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. E que pó, e que vento é este? O pó fomos nós: Quia pulvia es: o vento é a nossa vida: Quia ventus est vita mea. Deu o vento, levantou-se o pó; parou o vento, caiu. Deu o vento, eis o pó levantado: estes são os vivos. Parou o vento, eis o pó caído; estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos pó: os vivos pó levantado, os mortos pó caído; os vivos pó com vento e por isso vães: os mortos pó sem vento, e por isso sem vaidade.

4 comentários:

Anônimo disse...

Como se não bastasse a repercussão negativa do governador CID GOMES acerca do caso " JATINHO DA SOGRA", agora é a vez de outro desgaste político. No site do jornalista CLÁUDIO HUMBERTO ( www.claudiohumberto.com.br) do jornal CORREITO BRAZILIENSE, na parte " BRONCA GERAL", tem uma nota ( GREVE GERAL) sobre uma PERSEGUIÇÃO POLÍTICA que o governador cid gomes estaria fazendo aos DEFENSORES PÚBLICOS DO CEARÁ. Tal ato do governador deve-se ao fato de um DEFENSOR PÚBLICO ter ajuizado uma AÇÃO CIVIL PÚBLICA contra a instalação de uma usina TERMELÉTRIA MOVIDA A CARVÃO MINERAL, coisa já banida em países desenvolvidos devido ao seu efeito nefasto ao meio ambiente. E que se no dia 12/05 o governador cid gomes não vier com uma proposta concreta será deflagrada uma GREVE GERAL pelos Defensores Públicos Cearenses. Será que CID FERREIRA GOMES está disposto a suportar mais esse DESGASTE?????

Célio Ferreira Facó disse...

Doce alegria reler aqui, alhures, sempre, o Padre Antônio Vieira. Rui Barbosa tinha acertado consigo mesmo que o releria por toda a vida, a fim de manter o conhecimento caudal do vernáculo e a máxima destreza no trato do léxico e da sintaxe. Estes, em Antônio Vieira assumem a perfeição artística. O Padre foi também prócer do catolicismo e da ordem dos jesuítas no Brasil. De lembrar o caso de Sóror Juana Inez de La Cruz, no México. A religiosa caiu em grave descrédito e se tornou vítima de perseguição de seus superiores e outros políticos depois que ousou escrever e publicar uma sua discórdia de um sermão de Antônio Vieira. Octávio Paz fez dela maravilhosa biografia. Anoto que o belo texto citado acima contém dois erros que certamente ocorreram na digitação para a versão eletrônica: “socegar”, no meio do trecho, claro não é assim que se escreve; “vães”, quase ao fim, não existe, é “vãos”, quer dizer, fátuos, vaidosos. Note-se sempre, no estilo magistral de Antônio Vieira, os muitos recursos que utiliza. A gradação: “Anda, corre, voa”. A alternativa: “já... já... tudo... tudo... tudo...”. Ao fim o Pregador explica-nos a própria metáfora: “ O vento é a vida”. Com efeito, isto querem dizer os termos anima e spiritus, em latim: sopro, hálito, respiração, que caracterizam a vida. Eis a origem dos nossos termos alma e espírito. Hoje, de um que morre ainda dizemos: expirou, quer dizer, foi-se-lhe a respiração, o sopro. Um vento, um “espírito” mantém-nos vivos e gera em nós todas as manifestações da existência. Depois cessa, queda-se. Tanto melhor que usássemos todos os nosso ventos de vida para o bem, o belo, a sabedoria. Enquanto há vento!

Célio Ferreira Facó disse...

Sobre a propagandinha oficial do PT agora, em Fortaleza, faz hoje breve análise Erick Guimarães, na Coluna Política. Este quis elogiar principalmente a técnica comercial dos tais programas, sem deixar de notar nem a cor da roupa de Luizianne. Um, especialmente, apela para a piedade vulgar dos eleitores, muito mais que para a inteligência deles; quer de novo mostrar a Prefeita como vítima de perseguição de grupelhos poderosos. Como se esta não cometera já, à frente do Executivo Municipal, muitas, muitas omissões imperdoáveis, recorrentes. Fortaleza fenece; a quarta metrópole do País já não pode ser administrada só com o apelo alienante da propaganda e o improviso das gestões político-administrativas. Nem um orçamento breve como o desta Cidade suporta freqüentes gastos sem licitação pública, fora das suas reais necessidades, prioridades.

Lúcio Alcântara disse...

Caro Célio, não houve erro de digitação. Não quis alterar o texto mantendo a grafia tal qual está no livro "Estética da Morte", de Salomão Jorge,Soc.Impressora Brasileira. São Paulo 1944.Obrigado pelo cuidado com que lê os textos.