domingo, 20 de abril de 2008

Bom Pastor

Domingo passado, foi o Dia do Bom Pastor. O evangelho de São João nos brindou com a bela parábola do pastor e suas ovelhas.

No dia anterior, 12 de abril, fora o aniversário de nascimento de meu pai, falecido há anos. Por alguma razão, associei a leitura bíblica a ele. Não tanto a seu pastoreio, que de algum modo ele foi pastor, enquanto pai, médico, professor e político. Mas a uma passagem breve de sua vida que aflorou à memória.

No início de sua atividade profissional, foi médico de um estabelecimento dirigido por religiosas, conhecido por Bom Pastor, localizado na Praça do Liceu. Cercado por muros altos, recuado da rua, destinava-se a abrigar mães solteiras. Acolhia aquelas que, no jargão moralista da época, haviam dado um mau passo. Discriminadas, sofriam rejeição da sociedade e da família. Envergonhadas, ficavam reclusas na instituição à cura das irmãs. O preconceito era maior que os elevados muros do convento.

Lembro-me de ter ido lá poucas vezes, quando criança, em companhia dos meus pais, certamente em dias festivos, para missa na capela, que me parecia, aos olhos infantis, tão distante do portão de entrada.

O que o mundo terá feito daquelas jovens, feridas pela sociedade preconceituosa da época? Não sei bem quando me dei conta da função daquela casa, mais tarde convertida em presídio feminino.

Confio que o Bom Pastor tenha velado por ovelhas tão carentes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dr. Lúcio,

Este seu comentário é de uma sensibilidade e inteligência fora do comum.

Vejo que o senhor é uma pessoa que consegue desmpenhar um ótimo papel que seja como político, escritor, profissional da medicina e mais agora como humanista.

Parabéns!