Morreu aos 78 anos, há alguns dias, o poeta Mário Chamie. Lutou bravamente contra um câncer do pulmão sem deixar de escrever poemas a serem reunidos em livro que não alcançou publicar.
Foi secretário municipal de cultura (1979/1983) quando teve ensejo de realizar obra de que muito se orgulhava, o Centro Cultural São Paulo.
Abaixo um desses poemas nascidos no período do duro embate da vida com a morte.
LIVRO ABERTO
A rua é um livro aberto.
O olho minúsculo de um
pássaro
é um livro aberto.
A porta fechada de um
quarto
é um livro deserto.
Tenho escrito palavras
de muitos livros refeitos
que, surdos e quietos,
tecem límpidos e claros
os seus herméticos enredos.
Na rua leio o que soletro.
No minúsculo olho de um
pássaro
não leio o que vejo,
embora pássaros e ruas
me ensinem o que percebo.
Me ensinam, por exemplo,
o desterro aberto e refeito
de todo todo livro relido,
se atrás da porta fechada,
refaço o seu silêncio
desfeito,
releio o meu silêncio
perdido.
Saiba mais no jornal O Estado de S. Paulo, edição de 04/07/11
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