terça-feira, 18 de agosto de 2009

Saramago

José Saramago, escritor português, Prêmio Nobel de Literatura, rendeu-se à internet há algum tempo, constituíndo um blog onde publica textos, com a contundência que lhe é peculiar, nos quais não faltam juízos severos sobre importantes figuras do mundo político.

O escritor que definiu a internet como uma página infinita, reuniu em livro uma seleção de textos postados entre setembro de 2008 e março de 2009, intitulado O Caderno, publicado pela editora Companhia das Letras.

Como eu, sucumbiu a tentação do papel ao transformar escritos do blog em livro, para conciliar a natureza ágil e efêmera da internet com a longevidade que o papel assegura.

O título inspira-se no caderno que recebeu dos cunhados, quando se mudou para a ilha de Lanzarote, nas Canárias, no qual deveria registrar seus dias.

Ainda que não tenha escrito uma só linha nele, o presente levou-o a denominar de Cadernos de Lanzarote, um de seus livros, e depois chamar o blog de caderno.

Atraído pela instantaneidade da internet, que segundo ele é resultado da obsessão moderna pela rapidez, reconhece no meio uma forma diferente de comunicar-se que não exclui o livro, antes o complementa.

A internet não estimula nem atrapalha. São dois campos diferentes, disse.

Na Itália, a editora Einaudi, propriedade do primeiro-ministro Sílvio Berlusconi, recusou publicar a obra, face dura crítica feita àquele político. Nem por isso os italianos ficarão sem acesso ao livro. 36 editoras já se ofereceram para editá-lo.

De qualquer forma, Saramago experimenta, mais uma vez, o travo da censura. Antes, seu Evangelho Segundo Jesus Cristo havia sido censurado pelo governo de Portugal.

É inevitável concluir que a internet foi um grande passo dado em favor da liberdade de expressão.

Saiba mais nos jornais O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S. Paulo, edições de 25/07, 26/07 e 03/08 de 2009.

Um comentário:

Célio Ferreira Facó disse...

Constitui O Evangelho Segundo Jesus Cristo um notabilíssimo repertório de dificuldades argüíveis já quanto à própria doutrina e vida de Jesus, já quanto às repercussões da própria organização da igreja Católica.


Escreveu-o Saramago, mas poderia ter sido escrito também por Voltaire, Diderot, Thomas Morus.


Parece realizar à perfeição a observação de que Deus, existindo, preferiria falar com um ateu.

Com efeito, resta jamais explicada a predestinação, por exemplo.

A manter-se, ela revelaria um Deus cruel, desumano, frio como as pedras, a escolher assim os seus que salvar desde sempre, como também os desgraçados infiéis, pecadores, indignos da salvação e do bem.

No céu, como no inferno segundo a simples, eterna escolha indiferente de um Deus sem razão.

É o ponto alto do romance de Saramago a parte em que põe Cristo e o demônio a dialogar.

A conversa segue lúcida e viva, sem vãs condescendências da parte de Lúcifer. Este, faz-se de advogado da humanidade, quer saber por que não salva Deus os infelizes do Inferno, acusa todo o sangue derramado em vão nas Cruzadas, nas guerras santas, na fogueira das seitas intolerantes fanáticas.

Cristo, que o escuta, não logra, nestes diálogos, apresentar resposta ou razão suficientes.