Heroismos
Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solemne, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalões, rogindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.
Eu temo o largo mar rebelde, informe,
De victimas famelico, sedento,
E creio ouvir de cada seu lamento
Os ruidos d'um tumulo desforme.
Comtudo, n'um banquinho transparente,
No seu dorso feroz vou blasonar,
Tufada a véla e n'agua quase assente,
E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,
Escarro, com desdem, no grande mar!
7 de fevereiro de 1874
Cesario Verde
De "O livro de Cesario Verde", editora Tiragem, Lisboa, Dezembro de 2005, mantida a grafia original.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
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5 comentários:
TUDO É METÁFORA em todas as línguas. Sem ela não se fala, nada se diz. Não se saía da identidade reflexiva de vocábulos iguais apenas a si mesmos. Flor é flor; Cleópatra é Cleópatra. É a metáfora que permite a superação das limitações de termos e emula, imita a vida, para dizer, compor com eles novidades, realidades: “Foi Cleópatra eminente flor do Antigo Egito”. E, contudo, quem há de achar a explicação definitiva à palavra, frase, cujo significado se empresta a outros termos, idéias, segundo os contextos? Estes, móveis, fugidios, de toda a vida, existência? Foi tal fenômeno que permitiu a Jorge Luís Borges envidar esforços por construir a poesia de uma palavra só. Compôs um conto em que o protagonista, poeta, deve declamar ao rei, numa disputa, a poesia definitiva, de palavra única, a qual, enfim pronunciada ao ouvido do grande imperador, dê-lhe a compreender todo o mundo, o domínio de todas as falas, toda sabedoria, loucura.
QUE É O MAR senão figura das tarefas restantes, iminentes que cumprir? O resultado delas é incerto. E, contudo, ao homem, não se lhe dá senão a tentativa de ir e enfrentar os dias e resolver para si mesmo o oráculo ambíguo: “Irás, voltarás! não perecerás”. Ou será que as circunstâncias, imponderáveis, oferecer-lhe-ão outro augúrio, com as mesmas palavras, noutra combinação: “Irás, voltarás não! perecerás”. Seja assim a vida! Só a ação, os trabalhos a justificam. Não por acaso escreveu Sartre, para estudar o efêmero da existência, O Ser e o Nada. O nada, opondo-se ao não-ser, não fazer, é a morte em vida. Para ir ao mar, tomamos a folha de uma jangadinha, às vezes ampliada brevemente em embarcação maior, não infalível. São tais os instrumentos, precários, de que dispõe cada um para as suas tarefas: os ofícios manuais, a pena, as artes exercidas, as ciências experimentadas, o exercício da política, um gaita para cantar. “Vale a pena, se a alma não é pequena”, ensina Fernando Pessoa.
Este soneto de Cesário Verde fez-me lembrar "A Morte do Jangadeiro", do nosso extraordinário sonetista, Pe. Antônio Tomás. Também uma linda trova, de cujo autor não lembro o nome (pecado mortal!). Ei-la:
O mar tem fundos arcanos,
Abismos desconhecidos,
Profundos como os gemidos
Dos desesperos humanos.
(Barros Alves)
Longe de qualquer poesia, heroísmo, vive agora OCASO MELANCÓLICO A ADMINISTRAÇÃO DE LUIZIANNE. Significativo demais que quando tudo ocorreu estivesse também ausente da cidade. Apressadas, a Prefeita, parte de sua equipe (a que alude improvável sabotagem no desabamento daquelas arquibancadas cadentes) precisam esclarecer-se. Responsabilidade direta da Prefeitura, como poder público contratante, patrocinador, organizador, responsável pela vigilância, segurança dos quarteirões da folia na Antônio Sales. Eventual, pretendido, concurso de delinqüentes, criminosos, a sabotar, na calada da noite, aquelas estruturas de pau e ferro na avenida, precisaria ser primeiro demonstrado, provado. Ainda assim permaneceria a culpa objetiva da Prefeitura, a qual, chamada a indenizar as vítimas e assumir os seus erros, apenas poderia, depois, entrar com ação regressa contra contratados, terceiros. Responsabilidade, culpa da Prefeitura que não procedeu a todos os meios de zelar pela segurança da festa que devia organizar. Já se viu que esta gente tem o vezo de se esquivar de toda a culpa sempre! Ou de produzir, como justificativas, peças puramente retóricas, insustentáveis. Como se tratasse apenas de ver até onde vai a ingenuidade de seus próprios eleitores. E, na verdade, quem quer que passasse por aquela avenida, até a véspera do desfile, podia ver que TODO O AMONTOADO DE PAU E FERRO ERGUIA-SE FRÁGIL SOBRE SOBRAS DE MADEIRA na rua. E a Câmara Municipal? Omite-se de novo, agora, ante a obrigação, poder-dever de investigar os atos do Executivo?
Em Fortaleza, CHAMA AGORA A PREFEITURA A NOVA FESTANÇA os seus eleitores, depois que ruíram as podres arquibancadas que ela não conseguiu equilibrar direito na Domingos Olímpio. Trata-se da velha política romana de jogar ao povo apenas algum pão e circo, para que se mantenha ocupado, sem reivindicar os seus verdadeiros direitos e garantias. É a demonstração viva da definição de Henry Louis Mencken: “Democracia é a arte de governar o circo a partir da jaula dos macacos”. Entre nós, quando os governantes não raro cometem administrações desastrosas, eivadas de procedimentos viciosos, assistimos a muitos abusos do Poder Público. Consta que o Imperador Pedro II, acabada a guerra do Paraguai, quis homenagear Caxias e seus oficiais com uma festa na corte. O Duque, consagrado nas batalhas, recusou prontamente: “Alteza, mande celebrar uma missa e eu irei com os meus soldados; não a uma festa”.
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