Atlantico foi uma revista editada em Lisboa nascida de uma parceria entre o SNI (Secretariado Nacional da Informação), dirigido por Antonio Ferro e o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) sob a chefia de Lourival Fontes.
Era um vínculo que se estabelecia entre o Estado Novo, de lá e de cá, no bojo de um acordo cultural celebrado entre os dois paises sob a égide de Salazar e Getúlio.
Não obstante a inspiração dos dois regimes o periódico publicou excelentes textos da autoria de intelectuais e literatos brasileiros e portugueses e até de outros paises lusófonos.
Do nº 2 da nova série da mencionada revista reproduzo um poema de um poeta de Cabo Verde.
Para todos que, como eu, guardam a nostalgia de viagens que nunca chegamos a fazer e das que empreendemos sem que saissemos de onde estávamos.
Viagens
Lembro as viagens que eu fazia nos paquetes da Blue Star
quando escalavam o porto da Ilha de São Vicente.
Essas viagens não passavam nunca do cais
mas punham um alvoroço bem grande no meu coração...
Ora segua para a Europa, para Hamburgo, Paris, Londres
ora para Cuba, México, Argentina...
Mas para o Rio de Janeiro é que ia sempre de preferência
por causa do Cristo que esperava no Corcovado
e ali ainda me espera inutilmente
de braços abertos para minha recepção na terra amável
Era sempre à tarde quando eu ia passear para o cais
(todas as partidas devem ser à tarde
porque depressa se apaga dos olhos a terra que ficou atrás..)
O bote estava mesmo encostado à escada para me levar
e eu começava a descer o primeiro degrau...
Mas eu retrocedia logo porque era então queme lembrava
de que no dia seguinte tinha que por a assinatura
no livro de ponto da repartição...
Foi afinal o livro do ponto
onde todos os dias eu deixava melancolicamente
a minha assinatura e a minha renúncia,
que fez com que todas as minhas viagens
não passassem nunca do cais da Ilha de São Vicente..
Ilha do Sal, CaboVerde
Jorge Barbosa
domingo, 27 de janeiro de 2013
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