sexta-feira, 8 de abril de 2011

Leitura

Acabei de ler Os Jardins da Memória, Editorial Presença, do turco Prêmio Nobel, Ohran Pamuk, que há tempos aguardava o momento de ser lido.

É uma página de amor a Istambul, a metrópole que pulsa entre dois mundos, abraçada pelo Ocidente e o Oriente. Dividida, e fundida, entre duas culturas.

O autor fala com nostalgia, e melancólico carinho, da família, das ruas e praças, dos tipos, usos e costumes, e uma sutil condenação da influência americana e europeia sobre o meio.

O ritmo lento, mas sedutor, alimenta um mistério que leva o personagem principal a caminhar sem destino e horário pelas ruas, desertas ou apinhadas, em busca de uma resposta.

A síntese psicológica desse errante urbano surge quase ao fim do livro numa sentença que se desdobra em suas últimas páginas.

Para o homem o problema mais importante é poder ou não poder ser ele próprio.

O eterno drama da identidade pessoal constrangida pelo forçoso convívio social.

Um comentário:

Célio Ferreira Facó disse...

Poder ou não poder ser ele próprio - eis o que os antigos gregos retrataram naquele verdadeiro dicionário da condição humana que é a sua mitologia como o Leito de Procusto.

Procusto carrega as suas vítimas para o Leito e as ajusta a ele, encurtando-as, alongando-as.

Isto fazem com cada um o ambiente e as condições culturais em cujo meio nasce e cresce.

Quantos nascem e crescem em condições felizes, bem ajustados ao seu leito, sem que tenham de sacrificar-se para ele?

Há um trecho de Fernando Pessoa em que diz sentir às vezes "uma distância entre o que sou e o que poderia ser".