sábado, 19 de setembro de 2009

Poe II

Para que tenham uma noção dos riscos e opções labirínticas das traduções, transcrevo aqui extrato do poema original e das versões oferecidas por Machado de Assis e Fernando Pessoa.

The Raven
Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
"Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door -
Only this, and nothing more".

O Corvo
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia noite que apavora,
Eu caindo de sono e exusto de fadiga´
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse essas palavras tais:
"É alguem que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais".

Tradução de Machado de Assis (1883)


O Corvo
Numa meia noite agreste, quando eu
lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências
ancestrais
E já quase adormecia, ouvi o que
parecia
O som de alguém que batia levemente aos meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo
a meus umbrais.
É só isto e nada mais"

Tradução de Fernando Pessoa (1924)

Um comentário:

Salete Maria disse...

Senhor Lúcio Alcântara, por sugestão de um amigo, visitei seu blog. Gostei particularmente das poesias postadas. Faço também poeisa concreta e literatura de cordel...Remeto, abaixo, uma oraçao que fiz ao Cuca Cariri, outras poderão ser encontradas no meu blog www.cordelirando.blogspot.com
Pois é, fazer política também é fazer poesia.

ORAÇÃO AO CUCA
E À CULTURA-CARIRI

Minha lira nordestina
Meu Santo Jorge guerreiro
Minha nebulosa sina
Tiete de cancioneiro
Menestréis inspiradores
Trovadores, glosadores
Sirvam-me de candeeiro!

Ave Maria Bonita!
Ave Maria José!
Ave quem não acredita!
Ave quem tem muita fé!
Ave tu e ave eu!
Ave o que Deus me deu!
Ave home, ave muié!

Faço esta invocação
Nesta data especial
Suplicando inspiração
Pro meu verso marginal:
Grandes vates do além
Concedam a mim também
O talento original!

O CUCA enquanto espaço
Da ‘Cultura-Cariri’
Ensaia o primeiro passo
Nesta ‘matriz do pequi’
Que venha para ajudar
O povo compartilhar
O que se faz por aqui!

Que una as diversas artes
Saberes e produção
Das mais variadas partes
Deste bendito torrão
Que leve ‘universidade’
A toda vila e cidade
Por meio da interação!

E que resgate a memória
Da gente deste lugar
E valorize a história
Das falas ditas por cá
Em verso, prosa e canção
Repente, coro e oração
Que todos possam brilhar!

Que seja um espaço aberto
Para o mestre da cultura
Que dele fique mais perto
O Doutor em literatura
Que dança e dramaturgia
Show, teatro e romaria
Tenham presença segura!

Que o cantador de viola
Abrace o cineasta
Que o jogador de bola
Encontre com a ginasta
E que o audiovisual
Em tela fenomenal
Ensine: ninguém se basta!

Que nossa xilogravura
Seja mais valorizada
Que nas rodas de leitura
Esteja a ‘Patativada’:
Reisado, côco e lapinha
Broa, filhós e farinha
Tenham presença marcada!

Que haja muita fartura
Nas mesas de discussão
Regada a rapadura
E a muita disposição
Pra tudo ser debatido
Refletido, construído
Por várias vozes e mãos!

Que todo cabra da peste
Sendo nativo ou romeiro
Do litoral ao agreste
Camarada ou paricero
Possa vir nos visitar
Mode socializar
Um outside manêro!

E que cada lavadeira
E cada intelectual
Desmantelem as fronteiras
Que tanto nos fazem mal
Que cada doido ou minino
A cada bater do sinal
Anuncie o carnaval!

Que tudo quanto exista
Jamais seja ignorado
Que todo ponto de vista
Possa ser considerado
Que cada bode ou suíno
Sendo ou não nordestino
Seja por nós respeitado!

Que tudo que é estudante
De nível ‘superior’
Se converta em amante
Ou mesmo em pesquisador
Das coisas da Região
Onde jaz o coração
Que Violeta plantou!

Que todos possam curtir
O intercâmbio de cores
E que depois de ouvir
Os variados louvores
Uma voz se faça ouvir:
VIVA O CUCA, CARIRI
Terra de bons sonhadores!