segunda-feira, 19 de novembro de 2007

República


A comemoração da República foi tão silenciosa quanto sua proclamação. As ruas desertas alimentaram as estradas engurgitadas de carros rumo ao campo e às praias. O feriado fica como o único registro do fato.

Nem mesmo as insípidas solenidades oficiais acontecem. Que dirá festas populares.

Na verdade, seu advento não resultou de mobilização popular. Foi fruto da ação de um punhado de militares positivistas, alguns políticos, exaltados jornalistas e fazendeiros insatisfeitos com a abolição da escravatura.

A Princesa Isabel, com seu gesto, redimiu uma raça e aluiu o Império. A rusga de Deodoro com o Imperador, que levaria à destituição do Gabinete, derrubou a Monarquia. E, como já foi dito, o povo a tudo assistiu boquiaberto e passivo.

Hoje, historiadores publicam livros exaltando a figura de D. Pedro II como um grande estadista, possuidor de virtudes republicanas.

4 comentários:

Célio Ferreira Facó disse...

Da República, Democracia eis as variáveis, facilmente encontráveis, sem muito trabalho: isonomia de todos perante a lei, governos por eleições regulares, divisão dos poderes, como o queria Montesquieu, instituições e sociedade civil consolidadas, desenvolvimento econômico e social, suficiente distribuição de renda, igualdade de oportunidades. E, sobretudo, Povo, tomado não como massa de manobra mas como principal objetivo dos governos. Por aí já se viu que quase nunca se achou tal por estas plagas tupiniquins. Seremos talvez democracia sem povo. Mesmo agora, no governo de um Presidente saído das hordas de populações mais desafortunadas. No Poder, adotou, metamorfoseado, o velho, onipresente modelo das tradições oligárquicas. Sem lugar para a contemporaneidade, as reformas, a revolução. Sem projetos que tentar. A ilusão da identidade de origem e o apelo de um programa de auxílio mensal, gratuito, aos deserdados garantem-lhe alta popularidade. A outra parte, mais ou menos remediada, deixa-se um pouco consolada, aproveita-se como pode neste governo de omissões. Nada disso é democrático nem republicano. Nem inteligente.

Anônimo disse...

Governandor,

Como sabemos, a História que aprendemos sempre foi contada pelos vencedores. Ao longo do tempo ela pode tornar-se igual a um pêndulo: ora vai para um lado ora pende para o outro.

Dependendendo dos historiadores a História já escrita pode variar de interpretação, reabilitando ou execrando os personagens.

Mesmo a História mais recente (dos dias de hoje) em que tivemos e temos oportunidades de vivenciar, tomamos conclusões com base em informações verídicas ou não.

O povão enganado nunca participou de nada apenas foi usado como bucha de canhão.

Só nos resta ficar atentos para não cairmos em esparrelas mas sim procurar consolidadar o mais correto.

José de Freitas.

Anônimo disse...

Dr. LÚCIO,

O patriotismo do brasileiro há muito foi desvirtuado. Não se ensinam mais os hinos, o respeito aos símbolos nacionais, o amor à pátria.

Hoje, patriotismo é torcer pelo Brasil na copa, é se encher de ufanismo pela escolha besta do país para sediar a Copa de 2014, é ter o melhor carnaval do mundo... enfim, viramos um povo de patriotismo vaidoso e inútil, pois não se está nem aí para os rumos políticos ou para construir um país mais viável e um futuro melhor para nossos filhos e netos.

Por isso que não existe comemoração para a República, a Independência, a bandeira (o dia é hoje, né?), e outras datas cívicas que o brasileiro ignora.

Eis a razão de tanta passividade: é ignorância mesmo...

Cris

Na ponta da língua disse...

Desde o 15 de novembro de 1889, seguindo a primeira impressão de Aristides Lobo, assistimos a tudo bestializados. Aliás, livro importante para a compreensão daquele momento e do que veio depois é "Os Bestializados", de José Murilo de Carvalho. No inconsciente coletivo medra a cada passo a Monarquia. Temos rei para todos os gostos. Os partidos republicanos, os passados e os presentes, o que fizeram? O que farão para republicanizar - no sentido mais completo do termo - a nação?
Barros Alves