sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Tempos de Lúcio e outros tempos III - Violência



Leio, consternado, a notícia de que um procurador da república foi assaltado enquanto praticava os seus exercícios matinais e que, após forte pressão psicológica dos criminosos, foi obrigado a entrar no lago do Jacarey, em Fortaleza, enquanto seus pertences eram roubados. O desejo dos bandidos era de levá-lo para casa para promover um “arrastão”, com consequências que são difíceis de imaginar.

O nível de violência em nosso estado é assustador, dando, cada vez mais, provas de que estamos perdendo a guerra no combate ao crime. O jornal O Povo noticiou, em 07/05/13, que nos quatro primeiros meses deste ano as estatísticas acumulavam o incrível número de 873 assassinatos a tiros na Grande Fortaleza, com provas incontestes da banalização da violência e da completa falência da política de segurança pública em nosso estado.

Os responsáveis por essa política argumentam a violência tem aumentado em todo Brasil, convenientemente esquecendo que um dos principais compromissos do atual governador foi com “uma nova estratégia de fazer polícia”, com uso intensivo de tecnologia avançada e interação social, a partir do Ronda do Quarteirão (veja em http://www.ceara.gov.br/governo-do-ceara/projetos-estruturantes/ronda-do-quarteirao).

Se era essa a proposta, vemos a falência do modelo. De acordo com o relatório “Mapa da Violência”, do Instituto Sangari, o Ceará apresentou, em 2006, uma taxa anual de homicídios menor do que a média nacional, com 19,4 mortes por cem mil habitantes. Em 2012, a falta de uma política de segurança efetiva colaborou para que esse índice mais que dobrasse, atingindo a marca de 40,0 mortes por cem mil habitantes, como pode ser visto no gráfico a seguir:


Gráfico: Ceará – Taxa de homicídios por 100 mil habitantes
2006/2012





               Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará

Em 2012 foram praticados 2.286 homicídios dolosos no Ceará, tendo esse tipo de violência crescido a impressionante taxa de 12,8% ao ano, superando a média nacional. Essa tragédia é sempre justificada com desculpas, como a falta de alternativas efetivas de combate às drogas ilícitas, mas o fato é que cometeu-se um enorme equívoco ao priorizar os aspectos de marketing da política pública de segurança, em detrimento do aumento de efetivo, de sua preparação e de estratégias integradas com as políticas de educação e assistência social.

O programa Ronda do Quarteirão foi elaborado para uma campanha eleitoral, sem o conteúdo necessário para se tornar uma política pública. De forma completamente errada tentaram dar continuidade à farsa, com a priorização dos vistosos carros importados e dos caros “Segways”, com uma clara demonstração da falta de substância do programa. Atualmente, soma-se a ausência de capacidade de gestão e a falta de foco na política de segurança.

A violência cresce no vácuo gerado por esse modelo equivocado. O governador poderia ter a humildade de reconhecer a sua incapacidade de lidar com esse problema e solicitar a ajuda federal, pois vivemos uma situação caótica, com riscos crescentes.

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