quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pranto

Morreu Márcio Moreira Alves, o Marcito.

Jornalista do Correio da Manhã, integrante da elite carioca, passou à história por ter dado o pretexto para a edição do Ato Institucional nº 5, o AI-5, em 1968.

Deputado Federal, fez um discurso despretensioso, no horário conhecido como pinga-fogo, destinado à breves comunicações, destituídas de maior importância, no qual, entre outras coisas, inspirado no exemplo grego, conclamava as moças a recusarem a dança aos militares.

Por considerar o pronunciamento uma ofensa às forças armadas, o executivo solicitou ao Congresso Nacional (CN) licença para processar o referido deputado. A solicitação foi negada. Como consequência, editou-se o AI-5, que fechou o parlamento e cassou Márcio e mais outros políticos.

Durante a tramitação do pedido, destacou-se a figura de um político liberal, integrante do partido do governo, o deputado Djalma Marinho, do Rio Grande do Norte, que presidia a Comissão de Constituição e Justiça que, ao resistir às pressões para conceder a licença, ecoou a frase histórica: Ao rei tudo, menos a honra.

Integrava a Comissão, o deputado pelo Ceará, Vicente Augusto, que votou contra a concessão.

Quando fui senador da República, convivi com Márcio, que frequentava a bancada da imprensa junto ao plenário daquela Casa, já então em decadência física e profissional. Presenciei, à época, constrangido, uma áspera reprimenda que lhe aplicou o então senador Antônio Carlos Magalhães, sem que esboçasse justificada reação.

Insucesso eleitoral travou sua volta à Câmara dos Deputados (CD). Suspeito que nunca tenha absorvido de todo seu retorno ao Congresso apenas como jornalista.

Afinei-me com ele por meio da bibliofilia, que também cultivava, tendo se dedicado ao comércio de livros antigos, através do Sebo Fino.

Depoimentos de contemporâneos atestam sua integridade e espírito democrático.

Um comentário:

Célio Ferreira Facó disse...

Golpe, golpe, golpe de 1964.

Devíamos todos repetir sempre, nestes dias em que setores da imprensa nativa chegam a falar em ditabranda.

O golpe interrompeu brutalmente um processo que, doutro modo, geraria um Brasil muito melhor.

À sombra da industrialização nascente, nasceria um proletariado, nasceriam verdadeiros partidos de esquerda e sindicatos fortes; viriam desenvolvimento e distribuição de renda.

O golpe, digo, tudo isto interrompeu; desferiu-se ao cabo de poderosa e compacta campanha midiática para enfrentar “a subversão em marcha”.

O golpe derrubou o governo constitucional, humilhou a nação. Contra esta pesa, pesará sempre a fleuma, indiferença quase bovinas com que aceitou a ditadura.