segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Muralha do Japão

O Jardim Japonês é, para mim, uma evocação da infância e adolescência, passadas no bairro de São Gerardo, aqui em Fortaleza.

Ele ficava bem ali, na rua Juvenal Galeno, nas proximidades da praça da igreja de Nossa Senhora das Dores, no bairro de Otávio Bonfim.

Uma placa modesta assinalava sua localização em um terreno abaixo do nível da rua, cujas pedras irregulares, polidas pelo tráfego, escorregavam em acentuado declive para a plantação de flores, cuidada com zelo nipônico.

Durante anos, o Jardim Japonês ornamentou templos, residências, clubes, colorindo ambientes com suas flores, na alegria e na tristeza.

O patriarca Fujita, laborioso e honesto, criou uma família cujos membros se projetaram, com destaque, em vários ramos de atividade. Homenageio a todos, na figura saudosa de meu colega e amigo Edmar Fujita, homem simples e bom, pioneiro da hemoterapia no Ceará, cuja viúva e filhos lhe seguem os passos.

Faço o preâmbulo para dizer que, se a imigração japonesa para o Ceará, no passado, se resumira à família Fujita, e mais tarde a um grupo trazido pelo Governo Federal, que se localizou no Núcleo Agrícola de Guaiuba, a homenagem que a Prefeitura de Fortaleza presta ao centenário da chegada dos primeiros japoneses ao Brasil, conta com a minha simpatia.

Se a idéia é boa e merece aplauso, considero que sua execução não foi feliz.

Julgo adequada a escolha do terreno para implantação do novo Jardim Japonês, agora público, por estar abandonado, embora encravado em área nobre.

Quem caminha na orla de Fortaleza, no trecho que corresponde à Avenida Presidente Kennedy, tem dificuldade de ver o mar, tantas as construções erguidas sobre a praia. É um paradoxo do qual Fortaleza é exemplo único. Tão próximos do mar, tão distante dos olhos. Os que conhecem o projeto, inspirado na tradição japonesa, falam de sua beleza.

Acontece que, escondido por trás de uma muralha de concreto, agredindo a paisagem, não será avistado pelos transeuntes.

Imagino quanto será bonita a visão do alto dos prédios das proximidades, que abrigarão privilegiados espectadores.

3 comentários:

José Sales disse...

A proposta da praça do Jardim Japones, patrocinada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, com apoio de colonia japonesa é de uma total insanidade urbanístico - paisagística total. Um equívoco que ficará registrado dolorosamente em nossa paisagem. Absolutamente nada tem a ver com a concepção de paisgem e jardins integrados à mesma, em harmonia com a respectiva topografia do terreno em cada caso, utilizada no Japão. Para quem dúvidas acesse na internet informações sobre os Jardins do Palácio Imperial de Katsura, em Kioto, a principal obra prima desta tipologia de concepção, elaborada na Disnatia Endo, há quase 4 séculos. "Nadas a ver" com o brutalismo proposto em nossa situação por absoluta falta de informação e mesmo bom senso do projetista, que se intitula arquiteto/ paisagista.

Paulo Gurgel disse...

Dr. Lúcio, olá.
Transcrevi o início desta postagem no "Família Gurgel Carlos", blog que dedico à minha família e ao bairro de Otávio Bonfim.
(http://gurgel-carlos.blogspot.com)
Foi incluído link para o seu blog, a fim de que os interessados acessem o texto completo.
Um abraço.
Paulo Gurgel

Caminhos do Turismo pelo Turismólogo disse...

Caro Dr. Lúcio,
Parabéns pelo Blog. Coloquei como meus favoritos. Serei leitora e divulgadora.
Apesar de não concordar com a opinião sobre a Praça Japonesa - mas foi po isso que conheci o blog - com o olhar de Turismologa e Especialista em Geografia do Turismo e acima de tudo moradora da Cidade, vejo Av. Beira Mar uns dos lugares mais democráticos de Fortaleza, é um palco. Lá estão os freqüentadores que fazem a parte mais importante do espetáculo: são os atores principais.
É uma diversidade de pessoas: coopistas, ambulantes, vendedores, contempladores da paisagem, guardadores de carros, pescadores, garçons, turistas, freqüentadores de bares e restaurantes, entre tantos outros; todos juntos são iguais nas suas diferenças, desde quando são sujeitos que por meio da sua ação cultural constroem o encanto do lugar.
Nessa linha de raciocínio, atrelada aos indicadores sociais, é que nos faz repensar a Av. Beira Mar. E eis que surge nesse cenário um novo espaço a Praça Japonesa, que trará de volta costumes antigos, o hábito da Praça, um universo que une as pessoas, estimula uma relação saudável com a cidade, porque resgata a importância das relações sociais.
A Praça Japonesa irá sem dúvida resgatar valores tão importantes nos espaços públicos. A inserção do verde ganha destaque também por conta da globalização que se expressa deixando os lugares iguais, com os mesmo hábitos.
A Praça Japonesa será um diferencial positivo.
Eliane Curvello

Eliane