
Faleceu na Islândia, onde vivia, Bobby Fischer, o enxadrista genial, que pôs fim a hegemonia russa no xadrez, na memorável partida disputada em Reykjavick, capital da Islândia, tendo, então, se sagrado campeão mundial ao derrotar Boris Spasski.
Vivíamos o auge da guerra fria. O evento foi aproveitado para apresentar os Estados Unidos como superior à União Soviética no plano intelectual.
Naquela época, cientistas, artistas e desportistas eram como militares envolvidos numa guerra, na qual os países litigantes na verdade não chegaram a disparar um só tiro entre si.
Herói nacional, Fischer, dono de uma personalidade difícil, viria se transformar de herói americano em um perseguido pelo Governo dos Estados Unidos, do qual se converteu num crítico contundente.
Filho de judia, virou anti-semita e saudou o ataque terrorista de 11 de setembro como uma "ótima notícia". Em julho de 2004, foi preso no Japão e ameaçado de extradição e prisão no seu País de origem. Salvou-o a Islândia, palco de sua maior glória, que lhe concedeu passaporte e onde passou a viver até falecer.
A notícia fez-me lembrar do Mequinho, o gênio brasileiro do xadrez, que por trás dos óculos de aros grossos, guardava a fisionomia triste das precocidades geniais.
Anos depois, se teve notícia dele com uma estranha doença neuromuscular e distúrbios psicológicos. Perdera-se o futuro brilhante que se anunciara para o jovem enxadrista.
Ele e Fischer foram vítimas da genialidade, do sucesso precoce e do estrelismo. Atropelados pela vida, não resistiram à tirania do lugar comum e da rotina.
Pagaram preço alto por serem gênios.